A realeza do príncipe argentino

A carreira, sucessos e insucessos e toda a experiência que é assistir Lionel Messi.


Reprodução/Jovem Pan


Aqueles que fortemente acreditavam na decadência do futebol, no declínio técnico, na busca da tática exagerada, que sentiam falta de figuras como Mané Garrincha, Ronaldinho Gaúcho e muitos outros encantadores com seus dribles de tirar o fôlego, enxergavam o avanço do futebol moderno como um problema. O temido futebol moderno, dos estádios tomados de turistas, que tendem a assistir o jogo de maneira civilizada, e não animalesca como o manual do torcedor propõe. A grande síntese deste pensamento era o grande Barcelona da década passada, mas havia um jogador que ajudava a pôr essa teoria no chão. Ele é a conjuntura do futebol raiz atrelado à pedida europeia ao futebol. Ele é o resquício daquilo que as pessoas sentiam falta, juntamente ao que amam consumir. Este é Lionel Messi, a grande suma do futebol.

Óbvio que antes de tudo, ele era apenas um garoto nascido em Rosário, importante cidade Argentina, mas que desde o início conseguiu ter uma ligação com a bola, como se o instrumento estivesse chamando o mestre para trabalhar. Aos sete anos, o mestre, já orquestrando no Newell's Old Boys, demonstrava que sua habilidade conseguia ir além do normal e impressionar nas canchas argentinas.


Reprodução/Torcedores


Não é por menos que o jovem prodígio do Newell's estaria jogando pelo Barcelona anos depois, fazendo sua estreia ao lado de jogadores excepcionais que fariam parte do título da Champions League de 2005/06, já contando com Leo no elenco. Após este título, o time do Barcelona perderia a consistência de um dos seus jogadores mais valiosos, Ronaldinho Gaúcho, porém, ao invés do brasileiro, estava na hora do príncipe argentino entrar em campo e conquistar a admiração dos amantes do futebol.

E nada mais cativantes do que a figura do jovem, baixinho, de cabelo comprido que corre sempre atrás da bola. A garra do jogador latino estava ali e sempre vai estar em Messi, mas faltava um direcionamento. Quando se tem uma fera, é necessário controla-la, para que assim você possa atingir o seu máximo com ela. E o domador da fera? Pep Guardiola, chegando ao Barça na temporada 2008/09.

Claramente, Guardiola não foi o responsável pela consolidação de Messi como melhor, este havia tido boas temporadas passadas, mas a chegada do ex-jogador do Barcelona ao comando técnico o transformou. Sem mencionar os fatores Xavi e Iniesta, jogadores fundamentais para o esquema e de grande apoio a Messi. Após uma temporada de 16 gols e 18 assistências e uma semifinal de Champions League, sem mencionar o fato de que a mesma temporada 2007/08 era a segunda seguida em que concorria ao prêmio de melhor jogador do mundo, Messi havia acabado a primeira temporada com Guardiola com 38 gols, 18 assistências, campeão da Champions League e eleito o melhor jogador do mundo. O sonho de ser grande já era realidade e Guardiola e companhia trouxeram a Messi essa glória de ser o craque.


Reprodução/Folha de São Paulo


A partir disso, o que foi visto em diante foi a consolidação de uma magia que há tempos não era tão vivenciada, suas arrancadas impressionavam e tiravam o fôlego de todos. A precisão, o talento e o conjunto do time azul e grená conseguia feitos tão extraordinários que até irritava, e fazia vibrar quando perdia. Messi era aquele comando que deixava o jogo muito mais fácil, que tirava do sério o torcedor adversário, mas o seu talento jamais era questionado. A garra do latino ganhou a força tática do futebol mais profissional do mundo. Todos invejavam o Barcelona, mas não pelos títulos, e sim por ter alguém como Messi. Sem falar de sua consistência: melhor jogador do mundo quatro vezes consecutivas, tendo uma temporada 2011/12 de incríveis 73 gols e 32 assistências em 60 jogos na temporada, além de muitos outros de números estupendos. É a era do príncipe argentino, o herdeiro de Diego Armando Maradona estava ali.

Se todo ser humano possui defeitos, era difícil encontrar um em Messi. Até os apelidos de E.T. e o cara de outro planeta, reforçavam essa ideia de perfeição futebolística, entretanto retornar as suas origens argentinas era algo que não chegava nem perto da perfeição do jogador do Barcelona. As consecutivas derrotas em finais e o rendimento muito abaixo comparado ao clube, era um tiro no peito de todos os torcedores argentinos, que há tempos sonhavam na reconstituição de glórias passadas, de jogadores especiais, de Maradona.


Reprodução/UOL


Desde o princípio da carreira, Messi era comparado à Maradona, principalmente pelo físico: baixo, cabelo grande, veloz e até o gol histórico de Maradona na Copa do Mundo de 1986 contra a Inglaterra foi plagiado por Messi, em 2007, contra o Getafe. Porém, as comparações param por aí. O que distingue os dois é o psicológico, Maradona é sangue quente, raçudo e eufórico, um grande líder cheio de controvérsias e problemas fora de campo, já Messi é sua antítese: frio, quieto, introvertido, sempre aparentando ser calmo e tranquilo e não voraz e instintivo, mantendo uma imagem de bom moço, que não se perdeu, mesmo quando ele se rebelou esteticamente com tatuagens e cabelo descolorido. O grande ponto entre os dois, que possuem tanto em comum, mas tanta diferença, é suas próprias particularidades e qualidades. Melhores para uns e piores para outros.

O que dignifica Messi, ainda, é o fato de que não é um absurdo você o colocar acima de Maradona, lembrando que Maradona é uma das figuras mais inquestionáveis no que se diz a melhores jogadores de todos os tempos. Para os argentinos, é um absurdo comparar o homem que deu duas Copas do Mundo ao que pipocou em uma delas, mas o que realmente guarda lá dentro é o ressentimento de que o príncipe poderia ter sido rei. Para o restante das pessoas, é apenas uma comparação válida entre dois gênios que possuem seus problemas e dádivas.

A data de 24 de junho de 1987 sempre será marcada pelo nascimento de um dos maiores craques que já parou pra jogar futebol profissionalmente, que hoje completa seus 33 anos, um número bíblico e propriamente único do príncipe, que, como o seu igual, encanta multidões e faz de si mesmo algo muito maior. Maior que a igreja, maior que o campo de futebol. Ele é único. Quem ama futebol, ama Lionel Andrés Messi Cuccittini.

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