Muito mais do que Lebron James e Anthony Davis, os Lakers são funcionais e se destacaram ainda mais na hora certa.
Divulgação/Twitter Los Angeles Lakers |
Depois de completar um ano de existência, a temporada 2019/20 do melhor basquete do mundo chegou ao fim. Uma temporada que, com certeza, entrará para a história, não só pelo basquete mas também por todos os problemas enfrentados no decorrer deste ano: a morte de Kobe Bryant, a pandemia e a violência policial.
Em meio a tantos problemas, o comissário da NBA Adam Silver, encontrou a solução em Orlando, no ESPN Wide World of Sports. E o que parecia loucura se tornou realidade: a bolha da NBA aconteceu, e em mais 170 jogos disputados num período de três meses, com jogadores e funcionários entrando e saindo, nenhum caso positivo de Coronavírus foi encontrado, mostrando o sucesso conquistado.
Já no quesito basquete, com uma identidade diferente da habitual de uma arena, diversos times foram apontados como os favoritos a ganharem o título da NBA nesta temporada, mas, afinal, quem saiu vencedor foi o Los Angeles Lakers, garantindo o seu décimo sétimo título da história, igualando-se ao Boston Celtics como os maiores vencedores da NBA disparados.
E cada título tem sempre uma história, uma motivação, uma razão por trás da vitória. Os Lakers não tiveram apenas isso, eles obtiveram uma grande narrativa e um grande trabalho, que serão lembrados aqui e por todos os torcedores de maneira especial.
Do começo até o fim da temporada regular
Em 2018, o anúncio da contratação de LeBron James encheu de esperanças os torcedores e movimentou os holofotes da mídia novamente para o Los Angeles Lakers, que desde 2014 não sabia o que era chegar aos playoffs. A equipe tinha muitos jovens talentos: Kyle Kuzma, Lonzo Ball, Julius Randle, e a chegada de James seria a cereja do bolo para o time.
Ao final da temporada 2018/19, primeira de Lebron, os Lakers terminaram na décima posição - muito por conta da lesão do quatro vezes MVP, o que fez com que o time de Los Angeles caísse da quarta posição para a décima -, e a resposta encontrada fora a solidão de LeBron James no elenco. Apesar de alguns jovens talentos no elenco, eles não estavam preparados para assumir uma posição tão importante naquele time, pois tiveram a chance com e sem James e não conseguiram assumir. Sabendo disso, o flerte com Anthony Davis, do New Orleans Pelicans, começou ainda na primeira temporada, mas a troca fora apenas concretizada na outra.
Abrindo mão de Brandon Ingram, Lonzo Ball, Josh Hart e escolhas de Draft, a inevitável troca aconteceu e Davis rumou a Los Angeles. Após perder tantos jogadores, os Lakers passaram por uma reestruturação de elenco, onde trouxeram alguns veteranos como Dwight Howard, JaVale McGee, Avery Bradley e Danny Green; mantiveram peças como Rajon Rondo, Kentavious Caldwell-Pope, Kyle Kuzma e Alex Caruso; e substituíram Luke Walton por Frank Vogel no comando técnico da equipe californiana.
Os torcedores tinham uma certa expectativa para esse time, principalmente por conta de James e Davis, porém muitos duvidavam dos coadjuvantes da equipe, o que fez os Lakers não figurarem nas principais apostas da temporada. O favorito ainda era de Los Angeles, mas não Lakers e sim Clippers, agora com Kawhi Leonard e Paul George.
Ao final da temporada, os Lakers superaram as expectativas e garantiram a primeira colocação na Conferência Oeste, ficando atrás do Milwaukee Bucks, líderes da Conferência Leste, na classificação geral. Os Lakers conseguiram mostrar um bom estilo de jogo, e LeBron James e Anthony Davis mostraram-se melhores do que a encomenda.
A sintonia de LeBron James e Anthony Davis
Estamos vivendo a era das duplas da NBA, e Anthony Davis e LeBron James tornaram-se a principal dupla do momento. Eles são os pilares da equipe dos Lakers, possuindo trabalhos importantes no ataque e na defesa.
A sintonia entre eles não é resumida apenas no desempenho deles em quadra, mas também pelo relacionamento que eles possuem fora dela. Um relacionamento que é recheado de brincadeiras e de saídas após jogos. LeBron até comparou a relação deles com o filme "Quase Irmãos", em uma entrevista coletiva.
Dois grandes jogadores são essenciais numa equipe, pois eles podem revezar os minutos em quadra e carregarem o piano quando um deles tiver mal. "Toda série de playoffs que tivemos, ou ele comanda, ou eu comando até o ponto do time começar a caminhar", disse Anthony Davis ao Sports Illustrated.
Juntos eles trouxeram os Lakers de volta às vitórias e fizeram parte do All-NBA First Team. O jogo deles combinaram justamente com a época em que LeBron começou a atuar mais como um armador. Atuando lado a lado, eles tem uma média de 25 pontos por jogo, e Davis fora um dos principais responsáveis por LeBron James ser o líder de assistências da última temporada.
A combinação do rei e do monocelha foi tão impactante que uma das maiores discussões de toda a temporada era se Anthony Davis é o melhor companheiro de LeBron James. Em apenas uma temporada, Davis já teve o seu nome discutido entre Dwyane Wade, Kyrie Irving, Chris Bosh e Kevin Love. Inclusive, Wade, no Twitter, confirmou que Anthony Davis é o melhor parceiro de James.
Por quanto tempo a parceria dos dois vai durar é difícil saber, mas, juntos, eles são os pilares da equipe de Los Angeles. Os dois não tem ciúmes um do outro, Davis entende o tamanho de James e não tenta puxar o tapete, um não tenta diminuir o outro. Eles têm um relacionamento saudável, construtivo e, agora, frutífero.
O trabalho de Frank Vogel
Um dos personagens desse título mais subestimados de todos, mas é sempre assim: o técnico não tem vida fácil, principalmente na NBA e num time com LeBron James e Anthony Davis.
Mas, gostando ou não de Frank Vogel, o treinador fora um bom condutor dessa equipe recheada de jogadores experientes e, o que muitos diziam, ultrapassados. Vogel conseguiu pegar um time com Rajon Rondo e Dwight Howard longe de seus auges e colocar na primeira colocação da Conferência.
O estilo de jogo dos Lakers é baseado em sua forte defesa, cuja posição, após a temporada regular, é a de número três entre as 30 da liga. Uma defesa eficiente faz com que o adversário erre muitos arremessos e, também, perca a posse de bola, resultando numa nova posse de bola ou um contra-ataque, que foi a principal arma ofensiva dos Lakers em toda a temporada.
Nesse cenário, você consegue ver a importância de alguns jogadores, como Dwight Howard, JaVale McGee e, principalmente, Anthony Davis, para defender o garrafão, e de Alex Caruso, Rajon Rondo, Kentavious Caldwell-Pope e Danny Green para defender o perímetro.
O estilo de jogo implementado por Vogel conseguiu unir as melhores habilidades de seus craques com as maiores virtudes dos coadjuvantes, resultando num time funcional, não o melhor conjunto como os Raptors e o Heat, mas um time que cumpria o papel necessário.
E para quem ainda tinha dúvidas do trabalho de Frank Vogel, os playoffs chegaram para tirar qualquer dúvida. Os Lakers tiveram uma campanha 16-5 nos playoffs, mas o que foi impactante mesmo foram os ajustes feitos por Vogel após as derrotas. Aquele time fraco, que errou muitas bolas de três contra os Blazers no jogo um, foi trocado por um time mais ajustado, que fez quatro vitórias seguidas depois; no primeiro jogo contra os Rockets parecia que os Lakers, um time de jogadores altos, teriam dificuldades no small ball dos Rockets, mas nos jogos seguintes Vogel ajustou a equipe e mais quatro vitórias chegaram.
O treinador muitas vezes é sempre deixado de lado nas conversar de título ou de boas campanhas, principalmente se o time tiver jogadores especiais no elenco. Mas o fato é que Vogel conseguiu tirar o melhor dos jogadores disponíveis e, o melhor de tudo, tirou bastante de Anthony Davis e LeBron James. Se a dupla conseguiu render bem em Los Angeles, um dos culpados é Frank Vogel.
O fator playoffs
Todos os torcedores querem ver raça de seus jogadores em quadra, mas, no início dos jogos na bolha, o Los Angeles Lakers não apresentou muito disso. Antes de começar os playoffs, tiveram oito jogos de temporada regular, porém os Lakers estavam praticamente certos que iam permanecer na primeira colocação, portanto o time não teve tanto empenho e nem demonstrou um bom basquetebol. O desempenho abaixo nos oito jogos, apesar de algumas vitórias, fez com que muitos não apostassem nos Lakers.
E após a primeira partida contra o Portland Trail Blazers, parecia que a temporada já estava perto de acabar. Mas foi depois desse jogo contra os Blazers que os Lakers encontraram o caminho das vitórias, e a equipe começou a jogar como nunca havia jogado na temporada.
Apesar de outras derrotas terem acontecido, os Lakers venceram bem suas séries e a contribuição de alguns coadjuvantes cresceu consideravelmente. Rondo, que havia se machucado no início da bolha, retornou na disputa contra os Rockets e foi fundamental no restante da pós-temporada; Caldwell-Pope melhorou seu aproveitamento nas bolas de três e muitas vezes se mostrou como o terceiro jogador do time; sem falar, também, de Alex Caruso, que além de ser importante defensivamente, conseguiu ser mais efetivo nas bolas de três.
O rendimento do time deu um salto nos playoffs, lembrando o time que estava na melhor fase da temporada antes da parada pela pandemia. É importante ver como os jogadores, principalmente os mais velhos, se motivaram ainda mais para os playoffs, como se fossem a última oportunidade deles de serem campeões. Talvez tenha sido pelo clube também, pois os Lakers não iam aos playoffs desde 2014 e não ganham desde 2010, mas, com certeza, uma das motivações era Kobe Bryant.
Pelo Kobe...
A morte é uma coisa natural, todos vão passar por isso um dia, as tragédias, por outro lado, dão uma sensação de interrupção. Desde a sua aposentadoria em 2016, Kobe se dedicava em continuar respirando o mundo do basquete. Venceu um Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação sobre basquete em 2017 e constantemente apoiava sua filha, Gianna Bryant, que seria uma jogadora profissional de basquete, se não estivesse no acidente.
A morte foi um baque para todos, torcedor dos Lakers ou não, amante de basquete ou não. Uma interrupção de um legado sacramentado, e que podia crescer ainda mais.
A história de Kobe Bryant nos Lakers é a história de um homem que viveu auges, enfrentou dificuldades, recuperou-se, renovou-se e reconquistou o que era digno. 20 anos de carreira, 20 anos como um Laker.
Apesar de muitos não considerarem Kobe entre os maiores de todos os tempos, o seu estilo de jogar, a pessoa que era e o comprometimento com o basquete inspirou milhões de pessoas a seguiram a Mamba Mentality como um lema de vida. Seu legado nas pessoas foi impactante, e nos Lakers maior ainda.
Símbolo dos bons momentos e das conquistas recentes, a figura de Kobe, após seu falecimento, tornou-se um mantra para os jogadores e para a torcida. Na época, muitos não acreditavam que os Lakers poderiam ganhar o título por ele, mas com o passar do tempo, antes da pandemia, os Lakers estavam no auge da temporada.
Nos playoffs, a coisa tomou outra proporção graças à "Mamba Jersey", toda preta e dourada com detalhes da cobra símbolo do craque. A regata em si não tinha poderes, contudo a sua força estava presente no significado, na simbologia. Infelizmente, o título por pouco não fora conquistado com ela de vestimenta. A vitória do Miami Heat no jogo cinco das finais pode ter tirado o mito de que os Lakers não perdiam com ela, mas jamais tirará o que ela representou nos playoffs.
Com a conquista do décimo sétimo título da franquia californiana, justamente no ano em que Kobe Bryant e Gianna Bryant morreram, deu uma satisfação de dever cumprido. Talvez eles estejam olhando lá de cima para LeBron James e companhia, e é bem possível que o sorriso esteja de orelha a orelha, pois sabem que foram pra eles e por eles também.
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Ótimo Texto Lindo
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