Há seis anos, o Brasil recebeu um dos maiores choques de realidade de toda a história do futeebol

O fatídico 7 x 1 da Alemanha nas semifinais da Copa do Mundo FIFA, em 2014, expôs o país do futebol a sua realidade da pior forma.


Brasil recebeu um lição
Reprodução/IG

Todo torcedor de futebol vive de altos e baixos constantemente. Pode ser a curto prazo, como a vitória de seu time em um jogo e a derrota em outro, e pode ser em longo prazo, como um período de anos complicados e outros muito proveitosos. Na seleção brasileira não é diferente, chegamos ao ápice duas vezes num período curto: oito anos de diferença entre a Copa do Mundo dos EUA e do Japão/Coréia, as quais saímos campeões. Uma hora ou outra estaríamos diante de uma nova seca, igual àquela que durou após o campeonato de 1970, e, de fato, em 2014, já estávamos começando a enfrentar essa seca. Entretanto, nunca era entendido o porquê desta. As seleções de 2006 e 2010 tinham potencial, mas nunca mostraram sua relevância e sempre paravam nas quartas de finais. Naturalmente, sempre tinham os culpados: Roberto Carlos e sua meia, em 2006; Felipe Melo e Júlio Cesar, em 2010.

A incessante briga com o fator de erro humano é sempre a primeira reação quando qualquer erro é cometido, porém, em contrapartida, outros países não enxergavam desta forma simples de se analisar os fatos. Ok, talvez ele tenha sido o culpado mesmo do problema, mas quem garante que o substituto estaria a altura do problema? É exatamente o que a Alemanha percebeu, após sua participação fraquíssima na Eurocopa 2000, onde foi notado que a equipe só poderia ter algum caminho vitorioso, se os planos para o futuro, ou seja, os jogadores estivessem encaminhados. O suspiro final da daquela geração foi a Copa do Mundo FIFA 2002, a qual chegou à final e perdeu para o Brasil de Ronaldo e Rivaldo.

Depois disso, Bundesliga e DFB (Confederação Alemã) juntaram forças e criaram um programa de desenvolvimento de talentos, sendo estes acompanhados desde muito jovens, até a carreira profissional nos clubes B da Alemanha. A primeira amostra foi na Copa do Mundo de 2006, justamente na própria Alemanha, que contavam com prodígios como Podolski (21 anos) e Schweinsteiger (21 anos); era o começo de uma nova realidade. E os jogadores que a gente viu naquele memorável 7 x 1, passaram muitos e muitos anos jogando juntos na base e, muitos deles, juntos no Bayern, graças a união entre a Bundesliga e a DFB.

Além da Alemanha, a Europa como um todo enxergou as novas tendências e as modificações do panorama esportivo e aproveitou as oportunidades. A tecnologia que chegou no século XXI não serve apenas para celulares e computadores, mas sim para o uso de ferramentas inovadoras para a otimização do talento individual: prevenção de lesões, fortalecimento muscular, técnicas avançadas de scouting e análise de desempenho foram só alguns dos métodos que os europeus introduziram e modificaram a ideia de se trabalhar com o esporte. A profissionalização distanciou as equipes europeias das sul-americanas e equipararam as seleções. Não é à toa que ficou mais difícil de bater um europeu no Mundial de Clubes FIFA, além dos últimos campeões mundiais por seleções serem europeus.

As seleções sul-americanas serão sempre reconhecidas pela sua técnica apurada e sua vocação para o esporte, mas o futebol atingiu outros patamares que deixaram as equipes abaixo do alto padrão. Não se trata sobre a venda para o futebol moderno europeu, mas sim da adequação para a nova a realidade com o intuito de alcançar novos patamares, ou seja, a profissionalização do esporte. Apenas jogadores não levantam taças: técnicos, gestores e presidentes estão envolvidos num processo também, e, no Brasil, demorou muito tempo para se notar isso, porém o 7 x 1 foi o banho de água fria para todos nós do país do futebol, que percebemos o Brasil dividir este apelido com muitos outros países.

Afinal, aquela partida das semi-finais de 2014 tiveram muitos e muitos motivos do por que aconteceu, mas, em termos futebolísticos, foi a queda de uma ideia de superioridade fixa na cabeça dos brasileiros. Da mesma forma que os alemães tinham a ideia de que a força mental própria de um alemão os daria a glória, era o que a gente esperava da nossa técnica exemplar. Uma hora a gente ia levar, se não fosse o caminho mais profissional do que lúdico que o esporte tomou. Após isso, foi possível perceber alguma mudança, como a maior valorização para a base e maior consciência dos torcedores quanto a isso, mas a tentativa de melhorar o futebol continua com uma dificuldade que pode atrasar o país cada vez mais.

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