Apesar de serem treinadores com mentalidade ofensiva, os dois treinadores europeus possuem diversas diferenças.
Reprodução/Alexandre Vital/Gávea News |
Substituir um técnico vitorioso nunca será tarefa fácil. A pressão é muito além de simplesmente vencer os jogos ou conquistar títulos, trata-se da manutenção de uma filosofia, de uma imagem própria construída pelo treinador anterior.
Jorge Jesus conseguiu, de fato, atingir feitos históricos em pouquíssimo tempo, mesmo quando muitos não acreditavam nos seus métodos. A sua filosofia ofensiva encantou muitos torcedores, principalmente os rubro-negros, e a vinda de Domènec Torrent, ex auxiliar de Guardiola, não fora mera coincidência. O jogo ofensivo é a bola da vez no Flamengo.
E assim como Tito Vilanova, que assumiu o Barcelona após a saída de Guardiola, Torrent também teve dificuldades em acertar a equipe e tentar colocar seu padrão de jogo.
Comumente no Brasil, muitos treinadores atribuem a culpa de um futebol abaixo do esperado por causa da condição técnica de seus jogadores. Domènec nem pode cogitar algo como isso, após os títulos e o alto desempenho da equipe no ano passado.
Porém as diferenças entre ele e o treinador português são várias e podem ter sido um dos fatores que mais atrapalhou o começo do seu trabalho no Flamengo. Da mesma forma como a pandemia de Covid-19 também impactou, ou até mesmo das capacidades como treinador do espanhol, mas esses pontos não serão o destaque.
O jogo posicional de Domènec Torrent
Se o catalão trabalhou com Pep Guardiola por tanto tempo, seu estilo de jogo obviamente seria inspirado no treinador do Manchester City. E uma das ideias mais comuns de jogo do "Guardiolismo" é o posicionamento dos atletas em campo. Um lateral não vai avançar e assumir o papel de um dos volantes, enquanto este cobre a lateral vazia; os pontas não chegarão ao meio quando a bola estiver do outro lado, eles devem ficar abertos.
O jogo de posições é um dos principais fundamentos de Domènec Torrent, e, ao chegar no Flamengo, ele fora trabalhar essa questão. Entretanto, ele encontrou um estilo diferente do que acreditava, e um que funcionou muito bem.
Jorge Jesus conseguiu implementar um ataque bem móvel, muito pelas peças de seu elenco, como Gabriel, um centroavante que caí pelas beiradas, e Bruno Henrique, um ponta veloz e alto que tem um jogo aéreo forte. Além do ataque, os meias Éverton Ribeiro e Arrascaeta foram essenciais nas construções ofensivas, e sempre trocavam de posições com os atacantes também.
Um trabalho demora para ser construído e, também, para ser desfeito. Em pouco tempo de comando, o espanhol tentou uma nova estratégia para o time, seguindo mais suas características e mudando o 4-4-2 (ou 4-1-3-2) para o típico 4-3-3. E esta mudança atrapalhou o desempenho ofensivo e o rendimento dos atletas de ataque do Flamengo, muito pelo pouco tempo de trabalho.
A própria personalidade do espanhol
Quem se lembra de Jorge Jesus dentro da área técnica - vale também quando ele estava fora -, vai lembrar de um treinador bastante enérgico e ativo. Os gritos, as frustrações e a cobrança com a equipe o tempo todo foram uma das marcas do treinador português, algo que demonstra garra e paixão pelo esporte, coisas típicas da América do Sul e muito apreciadas também.
Apesar de serem vizinhos na Península Ibérica, os espanhóis e os portugueses são bem diferentes um dos outros. E a diferença de Jorge Jesus e Domènec Torrent evidência toda a diferença. A frieza e o olhar calculista do catalão desaproximam ele e a torcida, trazendo cada vez mais desconfiança.
Já na relação com o elenco, outra diferença é notória. Jorge Jesus é mais velho, 66 anos, e mais experiente também, por isso seu estilo mais paternal e emotivo é destaque e faz com que o elenco possa comprar suas ideias mais facilmente. Domènec, pelo que demonstra em entrevistas e na beira do campo, é de ser mais sério e mais distante de seus jogadores, os quais estavam acostumados ao ex treinador enfático, com quem viveram muitas emoções.
As comparações entre ambos não tornam um melhor e o outro pior. São apenas diferenças que podem ter sido fundamentais no processo de mudança de cargo. Uma das explicações do mal momento do Flamengo.
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