A produtiva relação entre Wolverhampton e Portugal

A recente contratação de Nélson Semedo faz com que as pessoas se perguntem como essa relação funciona e por quê dá certo.

Os Wolves contratam mais um jogador português
Divulgação/Twitter Wolverhampton

A Premier League é uma das ligas mais interessantes de se acompanhar atualmente. As melhores equipes do mundo se concentram por lá, mas quem acompanha assiduamente sabe que o diferencial da liga são os times médios do campeonato, aqueles que ninguém espera muita coisa, e acaba fazendo um grande jogo contra um dos favoritos ao título.

Por muitos anos, várias equipes surgiram como uma das principais candidatas a concorreram pelas seis primeiras vagas do campeonato: Everton, Southampton, Burnley. Na temporada 18/19, o Wolverhampton ressurgiu na primeira divisão e rapidamente entrou para a lista de times que gostam de complicar a vida do Big Six.

E desde de sua chegada à elite do futebol inglês, foi notável a quantidade de portugueses no elenco, como se fosse uma colônia. Uma união entre jogadores experientes, como João Moutinho e Rui Patrício, e jovens talentos, como Diogo Jota e Rúben Neves. Entretanto, o que mais chamou a atenção para os Wolves foi o sucesso adquirido com esses jogadores e com o restante do elenco, e, claro, com o comando do treinador português Nuno Espirito Santo.

Já se passaram dois anos e a equipe laranja e preta continua conquistando resultados importantes, e a relação com Portugal se mantém forte, principalmente após a contratação de Semedo, mas por que Portugal? E como essa relação vem dando certo?

Nuno Espirito Santo

Não é à toa que os Wolves investem em portugueses. O treinador é português também e pode auxiliar os novos chegados a se sentirem mais a vontade. Um treinador influência muito nas contratações de um clube.

Como jogador, Nuno estava no elenco do Porto campeão da Champions League de 2003/04, e por lá ficou bons anos sendo campeão português. Sua carreira de treinador iniciou-se em 2012, quando fora anunciado como treinador do Rio Ave; fez uma boa campanha no Valencia em 2014/15 e depois retornou ao Porto, agora como treinador, em 2016. Antes do início da temporada 2017/18 dos Wolves, ele se tornou o mais novo treinador.

Nos Wolves ele obteve um sucesso logo na primeira temporada, quando venceu a EFL Championship e carimbou sua presença na Premier League da temporada que vem. Foi na sua ida à Premier League que fez a diretoria dos Wolves confiar mais no seu trabalho e lhe dar mais peças lusitanas para trabalhar. É bem provável que se ele tivesse outra nacionalidade, a diretoria teria recorrido a outros jogadores, porém o casamento com Portugal surtiu muito efeito pelo fato de o país viver uma de suas melhores safras de jogadores dos últimos tempos.

Nos últimos anos, Portugal transformou-se num celeiro de possíveis craques, sendo muitos jogadores, de fato, craques atualmente, como Bruno Fernandes, Bernardo Silva, William Carvalho. E muitos desses jogadores que poderão chegar num nível bem alto estão no Wolverhampton: Rúben Neves, Daniel Podence, Pedro Neto, Fábio Silva. Mas não só a influência de Nuno é importante para as contratações, a relação do técnico com um dos agentes mais badalados do ramo esportivo é a cereja do bolo.

Jorge Mendes

Desconhecido por muitos dos torcedores, mas pouco esquecido por aqueles que o conhecem. Jorge Mendes é um dos principais agentes esportivos atualmente. Ele é português e possui uma influência muito ampla em dois portugueses muito vitoriosos por Europa afora: Cristiano Ronaldo e José Mourinho.

A relação com Cristiano é longa. Ele foi o empresário que conseguiu leva-lo ao Manchester United, em 2003, saindo do Sporting de Lisboa. E ainda conseguiu cravar a contratação mais cara da história, até então, em 2009, quando Ronaldo trocou o United pelo Real Madrid por 96 milhões de euros.

Já com José Mourinho a missão era alavancar sua carreira após o triunfo em 2004 com o Porto. Mendes foi o responsável por fazer o treinador alcançar times como Chelsea, Inter de Milão e Real Madrid. Além disso, Mendes conseguiu fazer diversas vendas para as equipes de Mourinho, com destaque ao Chelsea em sua primeira passagem: Deco, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Tiago e Maniche, todos portugueses e agenciados por Jorge Mendes.

O caso do Wolverhampton é bem parecido com aquele Chelsea, muitas contratações de portugueses, uma relação forte entre os treinadores e Jorge Mendes e, claro, dinheiro para gastar, o que foi um dos benefícios do Wolverhampton ao ser comprado pelo grupo chinês Fosun International em 2016.

Ambas as figuras foram importantes nessa caminhada dos Wolves, e a relação com Portugal vem sendo aprovada e até agraciada, com direito a terceiro uniforme das cores de Portugal e tudo. Mas tudo isso só fora possível porque a Premier League, e a Europa de certa forma, abraçou a multicultura e os estrangeiros.

A multicultura da Premier League e da Inglaterra

Desde a primeira temporada da Premier League, em 1992/93, os estrangeiros começaram a aparecer com maior frequência nas equipes inglesas. Os novos acordos de contratos televisivos e o aumento das receitas fizeram com que os clubes possuíssem um capital maior para contratações. Não só a questão monetária como também a flexibilização da chegada de jogadores não-europeus contribuiu para a Premier League tornar-se um dos principais receptores de estrangeiros no mundo.

Uma década depois, todos ficariam acostumados com a presença de jogadores não ingleses, a Inglaterra havia se transformado em um dos maiores palcos multiculturais da Europa, o que permitiu o surgimento de times inteiros compostos por estrangeiros, ou apenas suas principais peças. Por exemplo, aquele Arsenal invencível de 2003/04 tinha Patrick Vieira, Henry, Lehmann, Gilberto Silva e muitos outros estrangeiros no seu plantel.

E o que isso tem a ver com o Wolverhampton? Tudo. Sem essa realização de múltiplas nacionalidades num elenco, os Wolves não teriam conseguido crescer nessas últimas temporadas - muito menos o futebol inglês.

No elenco atual do Wolverhampton tem apenas três ingleses, algo que em outras épocas seria inimaginável, mas com a globalização isso é completamente viável e compreendido pelos torcedores de qualquer time da Inglaterra. E outra façanha desse time é aproveitar que a cidade Wolverhampton é uma das cidades mais multiculturais da Inglaterra, ou seja, a aceitação por esse método é geral.

Além de ser uma grande influência para os times pequenos que querem crescer no futebol, o Wolverhampton é uma grande influência para os times grandes entenderam o valor cultural que o futebol pode ter e de como isso pode ser extremamente benéfico.

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