Os motivos da crise do Barcelona e da descrença no futuro

A derrota para o Bayern de Munique por 8 x 2 não foi tão simples assim, os insucessos da diretoria e da imprensa ajudaram no processo.

Messi cabisbaixo com a goleada sofrida
Reprodução/Fox Sports

Uma goleada bastante alta em fase final de uma competição super importante... isto é algo que o brasileiro conhece e não gosta nada de lembrar daquele dia, mas não tem como esconder o fato que essas goleadas surgem quando a situação está indo ladeira abaixo. Elas não acontecem por acaso. Aqui mesmo no Brasil, foi notável alguns problemas do nosso futebol que fizeram os alemães chegarem e aplicar um placar amplo, mas isso é uma outra história de vários capítulos; o foco é o Barcelona.

A equipe azul e grená sempre é um forte candidato à títulos em qualquer competição, como na última UEFA Champions League, onde era um dos grandes favoritos. A questão por trás da goleada expressiva do Bayern de Munique nos torna reflexivos quanto ao que se passa com o Barcelona, e, após uma reflexão e uma percepção do que aconteceu nos últimos anos, chega-se em uma série de problemas que não aparentavam ser grande coisa, pois a equipe ainda tinha a maestria de Messi e os favoritismos nos campeonatos. Bom... esses problemas agora bateram na porta, e eles causaram muito de dentro pra fora.

A influência da mídia e Ernesto Valverde

A Catalunha é uma região que busca, há muito tempo, a sua independência, e para isto conta com uma estrutura muito grande, mostrando-se como um verdadeiro país. Em toda nação, os jornais sempre desempenham um papel fundamental na sociedade, e nos esportes não é diferente a situação. Os jornais da Catalunha são sempre muito influentes na região e no mundo, muito graças à tentativa de serem propriamente um país independente, e um dos chamarizes do mundo para a região é o time do Barcelona. Portanto, independentemente da situação, o Barcelona é pauta certa nas redações, seja para incitar a rivalidade com o Real Madrid quanto para opinar sobre o time catalão. 

Mas essa mesma mídia consegue abordar tópicos que não ajudam a equipe em muita coisa. Muitas vezes algum trabalho precisa de tempo, ou algum jogador necessita se habituar melhor, mas a mídia catalã pode mover os pauzinhos se achar necessário. Assim foi com o ex-treinador do Barça Luís Henrique, campeão da UCL com o Barça em 2014/15, sempre alvo de cobrança quanto o seu estilo energético e de sua mania de rotacionar o elenco com frequência. Seu sucessor, Ernesto Valverde, era justamente o oposto, mas também não fugia dos olhares atentos da mídia.

O técnico, que dirigiu a equipe até o começo deste ano, ficou no cargo por três anos e não será muito lembrado pelos títulos, mas sim pelas viradas sofridas na UCL por Roma, em 2017/18, e Liverpool, 2018/19. Ele também tem culpa da situação do Barcelona atual, pois, por mais que os jogadores gostassem do técnico, ele fora bastante passivo em sua passagem, pouco enérgico, que é uma das características naturais de um treinador do Barça. Entretanto, sua desestabilização no comando da equipe foi bastante influenciada pela mídia catalã, o que pesou juntamente com a campanha abaixo desta temporada, culminando em sua demissão.

O mal uso das categorias de base

Eu não queria fazer os torcedores do Barcelona chorar, mas, ao lembrar que jogadores como: Messi, Xavi, Iniesta, Puyol e Pique vieram da base, acredito ser difícil não relembrar aqueles bons momentos da época do Guardiola. E, talvez, esses jogadores fizeram a maior transição de elenco da história do futebol. Ronaldinho, Deco, Eto'o, Van Bommel, entre outros, faziam parte daquele elenco campeão da UEFA Champions League de 2005/06, que já contava com os ainda jovens Messi, Iniesta e Xavi.

O surgimento de Messi e companhia garantiu mais de uma década de competitividade para o Barcelona, mas assim como qualquer jogador eles possuem prazo de validade, algo que foi ignorado pela diretoria. O uso dos garotos de La Masia era a garantia que a equipe poderia fazer contratações pontuais e não ter que gastar completamente, o que poderia gerar déficit nos cofres. Jogadores como: Mauro Icardi, Thiago Alcântara, Adama Traoré, Héctor Bellerin e Andre Onana são todos garotos de La Masia, mas que não foram aproveitados enquanto jovens; atualmente, eles são muito mais caros.

Mesmo assim, não dá para falar que o Barcelona não aproveitou da base: Sergi Roberto, Jordi Alba, Riqui Puig e Ansu Fati são alguns exemplos de jogadores da base, mas, ao comparar com aqueles nomes, a equipe do Barcelona poderia ter titulares de alto nível à custo zero. A diretoria não deu valor à própria mina de ouro e muito menos renovou o seu elenco por uma quantia muito menor.

A incessante busca pelo novo Neymar

Nunca é fácil perder um dos pilares da equipe. Dói no torcedor e no desempenho do time. Entretanto, o caso do Neymar com o Barcelona atingiu um grau maior do que se esperava quando o brasileiro rumou a Paris. A diretoria trouxe de imediato Dembelé do Borussia, por um preço fora dos padrões do jogador francês, e o resultado disso não foi satisfatório. 

"Que não seja por isto, vamos atrás de outro que sirva". Eu tenho certeza que o presidente Josep Maria Bartomeu falara isso antes de contratar Phillipe Coutinho por 150 milhões de euros, mas mal ele sabia que o jogador brasileiro também jogaria abaixo das expectativas. E o mais recente substituto foi o campeão do mundo, Antoine Griezmann, por 120 milhões, mas em sua primeira temporada seu desempenho não chegou nem perto do que ele apresentava em Madrid.

Três contrações que ultrapassaram a casa dos três algoritmos e nenhuma que pudesse recolocar o ego abalado com a saída de Neymar no lugar. O que sobrou foram as derrotas amargas na UEFA Champions League, que agravou ainda mais a situação. Agora, após um 8 x 2 e uma possível saída de Messi, é notável o quanto essas questões estavam presentes há tanto tempo, mas que permaneceu escondidas, ou pouco importantes perto de um título da Champions League. Bom, este não veio, muito menos curou a situação, que vai deixar ainda muitas feridas nos torcedores futuramente.

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