A evolução de um Atlético de Madrid que parecia acabado

O que mudou no Atlético de uma temporada para a outra, e como conseguiu chegar no topo da La Liga.

Koke, jogador do Atlético de Madrid
Reprodução/Footy Headlines

Em um cenário amplamente dominado por Barcelona e Real Madrid, seria difícil imaginar que uma outra equipe pudesse brigar frente a frente com a superioridade deles, mas o Atlético de Madrid, com Diego Simeone, brigou pelo seu espaço e praticamente acabou com a dicotomia do futebol espanhol. Um título da La Liga, um da Supercopa da Espanha, uma UEFA Europa League e duas finais de UEFA Champions League: credenciaram o Atlético a virar uma potência na Europa inteira.

E depois de muitos anos vencendo títulos e sendo importante no cenário europeu, o Atlético de Madrid sofreu um grande baque na temporada passada. A perda do principal craque, Antoine Griezmann, não só freou a força do time como também impactou os torcedores e a instituição, que, nitidamente, não gostaram de serem preteridos por um rival direto. Além desse fator, houveram críticas aos investimentos, reclamaram do futebol apresentado e duvidaram se Simeone tinha futuro.

Apesar de tudo parecer ir por água abaixo, esta temporada 2020/21 marcou um diferente Atlético de Madrid, que vem liderando a La Liga depois de um turno inteiro. São 41 pontos em 16 jogos disputados, onde sofreu apenas uma derrota, marcou 31 gols e sofreu apenas seis. Na UEFA Champions League, terminou em 2º lugar na fase de grupos, abaixo do atual campeão Bayern de Munique. O bom momento e as boas apresentações não se encaixaram do dia pra noite, tiveram fatores muito relevantes que mudou o cenário da equipe madrilena.

Surgimento de uns, recuperação de outros

Quando anunciaram a saída de Griezmann do time, foi algo difícil de digerir, porque era um dos principais jogadores do futebol, campeão do mundo, e ele decidiu sair da equipe para tentar ganhar títulos com o Barcelona. Isso foi triste para o torcedor. E na tentativa de curar as feridas, o Atlético de Madrid trouxe João Félix, uma das promessas do futebol mundial que chegaria para suprir a falta de um ídolo, mas não foi bem isso que aconteceu.

A contratação que surtiria um efeito melhor aconteceria antes desta temporada iniciar, e veio quase como uma vingança. A chegada de Luis Suárez, ex-Barcelona, sem custo nenhum aos cofres, pareceu ainda melhor depois que ele começou jogando bem e sendo bastante útil para o time. É como se o Atlético estivesse se vingando do Barcelona por ter pegado Griezmann e ainda não ter colhido frutos.

Mas, na real, um dos grandes triunfos dessa temporada foi reencontrar o futebol de seus jogadores do elenco; não apenas com Suárez, que vinha de uma temporada ruim, mas também com João Félix, Carrasco, Ángel Correa, Llorente, Lemar. Simeone conseguiu recuperar a confiança desses jogadores e tirar ainda mais do potencial deles, e muito graças às táticas novas implementadas. 

Mudança tática

Não precisa ser um assíduo dos jogos do Atlético de Madrid para saber o estilo: jogo reativo, com passes verticais, velocidade e pouca posse de bola, mas não é todo jogo que esse estilo se encaixa perfeitamente. Um dos triunfos de Simeone era justamente conseguir bater de frente com as grandes equipes e vencer os times mais fracos também. Contudo, a grande dificuldade na temporada passada foi justamente vencer os times menores; basta ver os confrontos na Champions League, onde o Atléti eliminou o Liverpool nas oitavas-de-final, mas caiu para o RB Leipzig nas quartas-de-final.

Com isso, Simeone precisava encontrar uma equipe que fosse mais agressiva no ataque sem se descuidar lá atrás, e a solução foi uma mudança na formação. Anteriormente, a formação era um 4-4-2, que tinha muita preocupação na marcação e na saída em velocidade pelas laterais, e o novo esquema não foge muito disso também, apenas conta com uma linha de três zagueiros, cinco meio-campistas e dois atacantes.

A grande diferença não está na nova formação, mas, sim, nas novas funções de alguns jogadores: Koke dividia o meio-campo com Saúl, mas agora está em carreira solo a frente dos três zagueiros, ajudando na saída de bola; os alas são Trippier e Carrasco, que têm funções muito importantes, tanto na recomposição quanto na chegada mais a frente - principalmente na chegada mais a frente; e a novidade são os meias que ficam mais na parte central, onde chegam com frequência ao gol e ajudam Koke, se for preciso.

Toda essa repaginada, sem perder a alma do time, serviu de trampolim para o desempenho dos jogadores já citados anteriormente. É importante que no futebol os treinadores possam variar esquemas e táticas, para que eles não fiquem na zona de conforto e sejam fáceis de cair em um nó tático. Porém nem sempre é fácil instaurar novas táticas num calendário tão corrido. O Atlético de Madrid obteve bastante sorte para poder experimentar algo novo num futebol espanhol que está buscando novas ideias.

O cenário do futebol espanhol atual

Final da década retrasada e a década passada inteira, pode ser colocada nos livros de história como a era de ouro do futebol espanhol. Não apenas o título mundial em 2010 entra nesse assunto, mas a própria La Liga se tornando uma das ligas mais influentes do mundo, ao lado da Premier League. 

Mas o que vemos atualmente é uma mudança drástica nesse cenário, com um Real Madrid penando para conseguir se remodelar, após um triplete histórico da UEFA Champions League, e um Barcelona que sofre as inconsequências da antiga diretoria. Além disso, ainda tem o Sevilla, o Villarreal e o Real Sociedad, que são equipes em evolução ainda - além de muitos outros times tentando se reestruturar, como o Valencia.

Nesse cenário, onde todo mundo está em mudança ou começando a emplacar alguma sequência, novas tentativas, novas possibilidades aparecem, e por isso as mudanças que o Atlético de Madrid propõe funciona: o ambiente está propício. Talvez numa Premier League ou Bundesliga, onde as equipes tem estilos muito próprios e trabalhos mais longos, não funcionasse tão bem. Com os seus quase dez anos à frente do Atlético, Simeone busca novas tentativas de colocar o time no topo, e como sua filosofia permanece intacta, ele sai na frente de outros times que ainda estão tentando procurar as suas.

LEIA TAMBÉM:

Comentários