A final da Libertadores 2020 marca o encontro de uma rivalidade antiga, mas que nos últimos anos se tornou uma das principais do Brasil.
Foto: Divulgação/Twitter Gabriela Nolasco |
Se costumam falar que amor e ódio andam lado a lado, o futebol é a prova viva deste ditado tão popular, porque o que movimenta o futebol, de fato, é o amor pelo seu time e o ódio pelo rival. Até por isso, quando rivais se enfrentam, os clássicos ganham uma magnitude bem maior que um jogo comum, pois é a disputa entre milhões de torcedores, que vão poder chegar no trabalho ou na escola e poder zoar quem torce para o perdedor.
Agora, imagine todo esse cenário normal de clássico valendo um título, como a situação cresce ainda mais. E, para Palmeiras e Santos, é justamente valendo o título mais importante do futebol sul-americano, numa disputa de jogo único, em um dos maiores palcos do esporte mundial, o Maracanã. É mais do que um clássico usual de rodada de Brasileirão, é uma disputa para ver quem grava o nome na história. Depois do jogo de amanhã (30), mais um capítulo será preenchido, possivelmente o mais importante de uma história longa, antiga e, também, atual desses dois.
A história
Devido aos jogos incríveis dos anos 50 e 60, o clássico ganhou o nome de "saudade", por justamente relembrar a disputa épica entre o Santos de Pelé, Pepe e Zito e a Academia de Futebol do Palmeiras, que tinha como principal destaque Ademir da Guia. Com um time histórico à disposição, o Santos foi campeão paulista oito vezes em 11 anos, perdendo apenas três vezes: em 1959, 1963 e 1966, onde o Palmeiras saíra campeão do torneio. O Botafogo de Garrincha pode ter sido um adversário cruel do Santos de Pelé, mas o Palmeiras conseguiu tirar títulos de uma força imparável.
Durante esses 11 anos, as disputas não ficaram guardadas apenas no território regional, até porque a disputa entre eles no Torneio Rio-São Paulo de 1958, que não valia título, é uma das grandes partidas da história do futebol nacional. O placar de 7 a 6 pode parecer uma loucura nos dias de hoje, mas loucura mesmo foi a partida: o Palmeiras abriu o placar, mas chegou a estar perdendo por 5 a 2, de virada, no fim do primeiro tempo. Já no segundo tempo, após o puxão de orelha de Oswaldo Brandão, técnico palmeirense, o time virou, aos 34 minutos, para 6 a 5, algo que parecia totalmente inimaginável, pena que não duraria muito, pois Pepe fez um gol aos 38 e outro 41, acabando com o jogo e com a festa alviverde.
2015
Depois de muitos anos com altos e baixos de ambas as equipes, com a rivalidade mais amena e poucos acontecimentos marcantes - com exceção da semifinal do Paulista de 2009, quando houve a briga entre Diego Souza e Domingos, e de um jogo pelo Brasileirão 2010, normalmente relembrado pelo "Armeration" e não pelo 4 a 3 do Palmeiras na Vila Belmiro. Em geral, a rivalidade crescia quando ambas as equipes estavam bem, algo que demorou para acontecer durante o século XXI, apenas em 2015 que as equipes ficaram mais páreas.
Os ânimos começaram a se esquentar quando o Palmeiras foi, de certa maneira, ajudado pelo Santos a não cair em 2014. O Santos tinha perdido Neymar em 2013, mas ainda contava com jovens jogadores em ascensão que faziam a equipe ser forte; e o Palmeiras, com seu novo estádio e novos jogadores, voltava a ganhar mais força novamente. Ambas as equipes se enfrentaram numa eletrizante final de Paulistão naquele ano, vencida pelo Santos nos pênaltis. Mas isso não ficaria por aí.
Além das disputas por títulos desse ano, um mero confronto de Brasileirão se tornava uma grande confusão, principalmente entre o goleiro Fernando Prass e o atacante Ricardo Oliveira, que deixou a torcida e jogadores palmeirenses furiosos após comemoração controversa. Portanto, quando a final da Copa do Brasil, no final do ano, colocou as equipes frente a frente, todos esperavam grandes jogos. Dito e feito.
A final pode não ter sido um primor técnico, mas cada elemento tornou-se parte do folclore dessa rivalidade: o gol perdido de Nilson, Lucas Lima sendo bem marcado, o gol de Ricardo Oliveira no final, o pênalti final convertido por Prass. O Palmeiras saiu vencedor desse capítulo, mas a rivalidade apenas ganhava mais camadas históricas para todos os lados.
O cenário atual
Com a intensa rivalidade de 2015, os anos seguintes foram interessantes também, com uma semifinal de Paulistão vencida pelo Santos e a chegada de Lucas Lima ao time da Barra Funda. Porém, apesar de tantos elementos em torno dessas duas equipes, a rivalidade esfriou, muito por conta dos títulos do Brasileirão 2016 e 2018, por parte do Palmeiras, que colocaram a equipe em um status mais alto e com poder financeiro maior; mas ainda assim o Santos se mostrava forte, com o vice em 2016 e 2019 e a terceira colocação, em 2017.
A grande questão entre as duas equipes é justamente a equivalência de forças. Apesar de sempre estar perto das primeiras colocações desde 2015, o Santos não tinha a mesma condição de equipes como Palmeiras, Flamengo e Cruzeiro - antes de 2019 obviamente -, deixando o clube sempre como uma zebra ou força menor, e isso distanciava cada vez mais Palmeiras e Santos, uma rivalidade que foi galgada desde o início pela tamanha força de ambos.
E nessa temporada de 2020, quando tudo parecia confusão, principalmente na diretoria, o Santos, do treinador Cuca, consegue alcançar uma final de Libertadores, enfrentando o rival que tanto parecia distante; agora, poderá marcar história no futebol brasileiro e ao mesmo tempo se redimir dos problemas. Contudo, o rival, o Palmeiras, busca conquistar sua obsessão e poder fazer os pesados investimentos valerem cada centavo; depois de mais de 20 anos, o Palmeiras sonha em fazer história novamente. Nessa disputa não falta história, não falta rivalidade, não falta motivos, mas falta saber quem vai vencer.
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