[opinião] O calendário da CBF ainda é o pior do futebol brasileiro

Desde o anúncio do calendário de 2020/21, a CBF sofre duras críticas, e na prática, é ainda mais problemático do que aparenta.

CBF divulga o calendário para a temporada 2020 e 2021
Reprodução/CBF

Meses atrás, a temporada 2020 parecia comprometida como um todo no Brasil: a pandemia só crescia, os meses passavam e os estaduais nem chegaram a terminar. Até que no mês de junho, muito influenciado pela volta do futebol europeu, o Campeonato Carioca recomeçou em meados de junho, ignorando a massiva contestação de retorno.

Com isso, a CBF agilizou o processo do calendário e em menos de um mês anunciou as datas da temporada 2020. Os clubes, que haviam dado férias para os jogadores, recomeçaram os trabalhos não para o campeonato nacional, e sim para os estaduais, ou seja, menos tempo ainda de preparo físico e tático.

Meses depois, com um primeiro turno de Brasileirão encerrado, podemos ver o resultado do calendário apressado. Em primeira instância, é só checar os números de jogos disputados por cada equipe e se deparar com a quantidade de times que disputaram todas as partidas do turno: nove. Enquanto isso, o São Paulo jogou 16 partidas apenas, seguido de três times com 17 partidas somadas e sete com 18.

E a maioria dos jogos atrasados foram em decorrência do próprio calendário, que precisou se rebolar para encaixar os jogos de Brasileirão e Copa do Brasil, e ainda tomar cuidado com os estaduais, Libertadores e Sul-Americana. Além disso, as Datas Fifas, que sempre foram ignoradas pela CBF, se tornaram um percalço ainda maior nesse calendário, dado que as seleções se utilizam de vários jogadores que atuam no Brasil. Nessas quartas de final de Copa do Brasil, São Paulo, Palmeiras, Flamengo e outras equipes sofrerão as consequências do calendário brasileiro.

O resultado dessa infinita gambiarra de datas é visto dentro de campo, através de sucessivas lesões e de um desempenho futebolístico que faz qualquer um confirmar o nível baixo do futebol brasileiro.

Muitos creem que as lesões são naturais, e de fato são, mas qualquer jogador não conseguirá resistir à intensa maratona de jogos. Não há joelho, músculo ou pé que consiga aguentar. Eventualmente, ou você se machuca, ou diminui sua intensidade no campo. E qualquer lesão ou baixo rendimento trazem ainda mais dificuldades para as equipes continuarem no ritmo acelerado dessa temporada, de clube e seleção.

Mas o lado físico não é o que mais sofre, só perde para o lado tático. Como uma equipe, que estreou um novo técnico, conseguirá se manter forte numa sequência de jogos ininterruptos? Não vai. Trabalhos demandam tempo, principalmente para times, como Flamengo, Atlético Mineiro, Internacional, que apostaram em treinadores de ideias mais complexas. A falta de treinos e as sequências de jogos limitam o potencial do futebol brasileiro.

Tanto se fala da qualidade técnica e tática aqui no Brasil, mas poucos colocam a culpa no calendário recheado de datas. Todo ano as equipes iniciam a temporada rapidamente, com poucas férias e pré-temporada; muitos times perdem jogadores fundamentais para as seleções, sendo que as reposições não são de mesmo nível; jogadores se machucam constantemente, fazendo times gastarem ainda mais para peças de elenco. Pelo calendário e por outros aspectos conectados, a dificuldade de crescer o futebol brasileiro é visível.

Mas a CBF é a culpada de tudo? Não completamente. As equipes erram bastante também, mas é a confederação que detém o poder ainda. Ela conhece a situação, entende, mas não busca soluções ideais. Na verdade, piorou ainda mais a situação com a implementação da Supercopa do Brasil. Apesar de ser uma boa ideia, a Supercopa diminui ainda mais a pré-temporada e infla o calendário para duas equipes. Se algum dia as equipes revoltarem-se contra a CBF, erradas elas não estarão, até porque a impressão que dá é de um relacionamento um tanto quanto abusivo.

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