Southampton mostra como tempo e confiança podem ser importantes para um treinador

O trabalho de Ralph Hasenhuttl e da diretoria dos Saints mostram como uma equipe pode sair do buraco sem precisar trocar de comandante.

jogador do Southampton comemorando um gol
Foto: Site oficial do Southampton

Apesar de muitas grandes equipes serem os centros de atenções na Premier League, sempre há um espaço sobrando para times que vem jogando bem e impressionando. Assim foi com Leicester, Wolverhampton, Everton e, agora, Southampton. A equipe da cidade de mesmo nome está vivendo uma temporada especial, com direito à liderança do campeonato em novembro, e uma relevância que não sentia desde 2017, quando terminou a temporada 2016/17 na 8ª colocação.

Os Saints é uma equipe que viveu bons momentos a partir de 2013, mais precisamente na temporada 2013/14, onde era treinada por Mauricio Pochettino. Depois dessa temporada, vieram duas com o atual treinador do Barcelona, Ronald Koeman, e foram as melhores da equipe, com direito a disputar a UEFA Europa League. Nessas temporadas, o Southampton havia ganhado a atenção dos torcedores e da imprensa, algo que não durou por muito tempo.

Após a temporada 2016/17, o rendimento da equipe caiu abruptamente, e a disputa que antes era para alcançar uma vaga por torneio continental, tornou-se uma luta pela permanência na liga. Na temporada 2017/18, o trabalho do treinador argentino Mauricio Pellegrino não foi tão eficiente quanto do outro Mauricio, e a equipe terminou a Premier League na 17ª colocação; um dos motivos foi a perda do principal zagueiro Virgil van Dijk e da ida até as semifinais da Copa da Inglaterra. Na temporada seguinte, a situação não melhorou muito, mas foi nela que o futuro foi traçado.

Após ter assumido a equipe no meio da temporada passada e ter iniciado a seguinte de maneira catastrófica, o treinador Mark Hughes fora demitido e substituído por Ralph Hasenhuttl, que fora o responsável em não rebaixar o Southampton. A escolha do treinador alemão foi por conta dos sucessos em clubes pequenos da Alemanha e, principalmente, pelos dois anos a frente do RB Leipzig, onde garantiu uma média de 1.69 pontos por jogo, ou seja: 140 pontos em 83 jogos, o que equivale a 41 vitórias, 17 empates e 25 derrotas.

Mas quando chegou ao Southampton a missão era mais complicada: salvar a equipe de anos difíceis. Sua primeira temporada completa foi a de 2019/20, a qual também começou de maneira apática, muito por conta da goleada histórica que sofreu em seu próprio estádio, o St. Mary's Stadium, por 9 a 0, contra o Leicester; naquela altura, dez jogos haviam sido disputados, e os Saints estavam na zona de rebaixamento. Lembrando o que aconteceu com Mark Hughes, que salvou a equipe do rebaixamento no restante de uma temporada e foi demitido após um início complicado, o caminho natural era Hasenhuttl ser demitido também. Mas não foi.

Por incrível que pareça, uma possível demissão não foi nem cogitada, isso na conversa que o treinador e o chefe executivo da equipe, Martin Semmens, tiveram após o jogo e na manhã seguinte. A diretoria deu a confiança que todo treinador deseja, e o trabalho foi prolongado. Além do bom senso da diretoria, os números e a expectativa no treinador eram altas também, porém, em diversas equipes, um placar de 9 a 0 dentro de casa seria mais do que especial para mandar alguém embora.

Após a partida, com um laço mais forte entre Hasenhuttl e diretoria, o técnico se despôs a trabalhar ainda mais. Uma das principais mudanças foi o esquema tático da equipe, deixando um 4-4-2 tradicional para um 4-2-2-2, com os meias, antes abertos, mais próximos dos atacantes; uma formação que ele teve muito sucesso em seus últimos trabalhos. Ainda por cima, a chegada de Danny Ings foi bem importante, porque o jogador foi o vice artilheiro da Premier League em 2019/20, com 22 gols - ficando atrás dos 23 tentos de Jamie Vardy -, e salvou o time de muitos resultados ruins.

E para quem lembra dessa temporada longínqua de 2019/20, sabe que ocorreu a parada por conta da crise do novo Coronavírus, e, apesar da situação, Hasenhuttl soube aproveitar muito bem para estudar e dispor de novas ideias para os jogadores da equipe, incluindo um detalhamento forte sobre funções e posições. Resultado: a equipe conseguiu se livrar de qualquer perigo de rebaixamento e terminou em 11º, com uma arrancada final de sete jogos sem perder.

Atualmente, o Southampton encontra-se na 10ª colocação, mesmo tendo atingido a liderança anteriormente. Mas toda a loucura dessa atual temporada vem sendo ruim para manter qualquer tipo de consistência, e a leve queda de desempenho dos Saints, na Premier League - porque continua vivo da Copa da Inglaterra -, é mais natural do que parece.

No geral, a maneira como o Southampton demonstrou confiança e continuou apostando em Ralph Hasenhuttl é digna de virar pautas e mais pautas. Apesar de se tratar de uma equipe com poucas expectativas de sucesso numa temporada e já estar indo mal, obviamente a manutenção do treinador no cargo não parecia tão absurda, contudo o principal destaque fica pelo que aconteceu depois. Agora, o Southampton recuperou os holofotes, seus jogadores começam a se valorizar cada vez mais e a expectativa é de mais sucesso; pode não ter tanto assim, mas já é mais do que se esperava. Tudo isso pode ser uma mensagem para muitos times e torcedores de que, às vezes, vale a pena investir a longo prazo.

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