De 13º colocado em novembro, para líder disparado em fevereiro: a arrancada do City até a liderança da Premier League.
Divulgação/Twitter Manchester City |
Assim como a crise do novo Coronavírus atormentou a temporada 2019/20, que teve de ser interrompida devido ao surgimento do vírus, a 2020/21 sofreu consequências pesadas também. Pouquíssimo tempo de férias - principalmente para aqueles que disputaram competições continentais -, falta de pré-temporada e um calendário habitualmente maluco foram responsáveis por tornar essa temporada ainda mais imprevisível e disputada. Além disso, a pandemia continuava a solta, limitando o rendimento das equipes e dos jogadores.
Pegando apenas o cenário do campeonato inglês, mais de sete times ficaram na liderança pelo menos por algum período, e aquela supremacia de Liverpool e Manchester City, vista nos últimos anos, desapareceu. O City, depois de ter sido derrotado pelo Tottenham, no dia 21 de novembro, por 2 a 0, ocupava a 13ª posição e não conseguia ser tão bom na Premier League quanto era na Champions League. Até o jogo contra os Spurs, o City havia marcado dez gols em sete jogos no inglês, enquanto no torneio europeu foram nove gols em três jogos.
Contudo, após o jogo contra o Tottenham, a equipe não perdeu mais: são 23 jogos consecutivos sem perder e nos últimos 16, apenas vitórias, com direito à cinco vitórias sobre adversários do Big Six. Com a sequência emplacada, os Citizens assumiram a ponta da tabela e dispararam, tornando-se a equipe mais consistente da Inglaterra e uma das mais de todo o continente. E não foi por acaso.
A defesa é o melhor ataque
Quando pensamos em Pep Guardiola, a defesa não é o principal centro de atenções, muito pelo contrário, é esquecida. O estilo revolucionário do Tiki-taka, que Guardiola ficou conhecido por usar no Barcelona de 2008 a 2012, tornou-se algo célebre para o treinador espanhol, mas muito por conta do aspecto ofensivo, da posse de bola. Apesar do Tika-taka do Manchester City não ser o mesmo do Barça, os ideais estão presentes e todos já estão acostumados com isso. O que ninguém estava acostumado é com uma defesa tão confiável.
Na temporada atual, foram disputadas 36 partidas e 19 gols foram sofridos (média de 1.8 gol), com destaque para o número de jogos sem tomar gol, 22. Depois da derrota contra os Spurs, quando começou a sequência invicta, apenas sete tentos foram sofridos em 23 partidas (média de 3.8 gols), sendo que nos 13 jogos primeiros jogos, 13 gols foram tomados.
Uma das mudanças feitas pelo treinador foi colocar John Stones de titular, ao lado do recém-chegado Rúben Dias. Uma outra foi colocar a dupla titular de laterais com João Cancelo (pela direita) e Zinchenko, conseguindo acabar com o problema de laterais. A dupla de zagueiros consegue ser rápida, alta e versátil, conseguindo executar os planos defensivos, de cortar cruzamentos, interceptar passes e muitos outros, como também é útil no posicionamento durante a fase ofensiva, protegendo o time de contra-ataques e ajudando na construção do time. Enquanto isso, os laterais conseguem chegar com frequência na linha de fundo e participar ativamente dos ataques.
Além disso, com a defesa sólida, possibilita ataques mais agressivos e formações mais ousadas, ou seja, criatividade na fase ofensiva: o sonho de qualquer treinador ofensivo, como Guardiola. Na temporada, o City possui 79 gols em 36 jogos, uma média de 2.1 gols por partida. Antes do confronto contra o Tottenham, foram 24 gols em 13 partidas, uma média de 1.8 por jogo; depois da partida contra o time de Londres, foram 55 gols em 23 partidas, uma média de 2.3 por jogo. Portanto, a evolução da defesa surtiu efeito no ataque, mas graças ao trabalho com o elenco perante às dificuldades do momento.
Ajustes e adaptações
Com certeza, em geral, uma das maiores dificuldades encontradas nessa temporada de 2020/21 tem sido as lesões constantes dos jogadores, sem falar nos contaminados pelo Covid-19, que além de desfalcar o time, sofre consequências no rendimento posteriormente. No caso do Manchester City, dois dos melhores jogadores da equipe, Kevin De Bruyne e Sergio Aguero, ficaram de fora de diversas partidas, além de Fernandinho, um dos líderes da equipe, também ter se machucado.
Com isso, cabia à Guardiola encontrar uma saída para o problema, além dos outros, como encontrar a linha de defesa e lidar com a má fase de outros jogadores. Por exemplo, o substituto imediato de Aguero é Gabriel Jesus, mas o brasileiro encontrava dificuldades de manter uma consistência, o que obrigou o técnico a colocar diversos jogadores de centroavante (ou falso 9): De Bruyne (quando não estava machucado), Phil Foden, Ferrán Torres, Riyad Mahrez, entre outros. Depois que a equipe começou a se acertar lá atrás, o ataque conseguiu ter mais consistência, e as diferentes peças que compunham o ataque, conseguiam dar um ar de imprevisibilidade e novidade para o City. Contudo, os jogadores de frente não foram os principais.
Depois da defesa, o mais interessante do Manchester City é o meio-campo. Mesmo com a lesão do meia belga, Guardiola conseguiu encaixar três jogadores importantes taticamente e funcionais, tanto no ataque quanto na defesa. Rodri, Gundogan e Bernardo Silva foram o trio que mais se repetiu nos últimos jogos e vem se tornando consistente. Rodri é o volante mais de combate e armação de jogadas, que possui um trabalho tático de recompor na defesa também; os outros dois conseguem chegar com mais frequência à frente e se tornam peças importantes no ataque, com infiltrações, passes em profundidades e tabelas perto da área - não à toa que Gundogan é o artilheiro do City, com 11 gols. Mas todo esse trabalho de Guardiola é fruto de um relacionamento saudável com a diretoria.
Um apoio incondicional
Talvez um dos dias mais importantes da história do Manchester City aconteceu num mês de fevereiro, cinco anos atrás, quando era oficializada a contratação de Pep Guardiola. Depois de três temporadas a frente do Bayern de Munique, o treinador chegava pela primeira vez na Inglaterra e comandaria uma equipe muito menos histórica que as outras que tinha comandado, mesmo que o City estivesse em ascensão na Europa.
Desde então, foram conquistados oito títulos: duas Premier League, uma Copa da Inglaterra, três Copa da Liga Inglesa e duas Supercopa da Inglaterra, com direito à recordes batidos e temporadas bastante vitoriosas. Desde sua chegada, Guardiola foi aclamado, não apenas pela afeição dos ingleses pelo estilo de jogo, mas pelo seu currículo vitorioso e a figura tão singela no esporte. Os títulos no City só corroboraram a sua excelência, e o trabalho feito é considerado por muitos o melhor feito por ele.
Não apenas o carinho dos torcedores e o respeito dos jogadores, mas também uma confiança muito grande das autoridades maiores do Manchester City, que sempre confiaram e mantiveram uma relação firme com o treinador espanhol: "Ter esse tipo de apoio é a melhor coisa que qualquer manager pode ter", disse Guardiola, quando renovou seu contrato por mais dois anos, no final do ano passado. Com uma estabilidade dessas, um treinador não teme as dificuldades do percurso, igual à dificuldade enfrentada no início da temporada. O ambiente e o respaldo dos superiores não deixam qualquer momento ou perda abalar as estruturas, e se o treinador quiser, eles vão tentar fazer o que for, devido ao excelente ambiente e relação entre eles. Talvez um dos pontos mais fortes de todo o Manchester City.
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