A temporada "ruim" do Liverpool mostra como o futebol é sistêmico

Um dos problemas da temporada dos Reds pode estar ligado com a dificuldade de Klopp em encontrar peças para regular seu sistema de jogo.

Reprodução/Football365

Quando se pensa nas disputas por títulos na Inglaterra, o Liverpool é uma das primeiras opções que surgem na mente de torcedores. A equipe de Jürgen Klopp conseguiu alcançar patamares altos, tanto no nível de futebol apresentado quanto pelos títulos de Champions League, em 2018/19, e Premier League, em 2019/20. Contudo, nesta temporada 2020/21, surpreendentes dificuldades surgiram e atrapalharam o caminho dos Reds, que está estacionado na 7ª colocação do campeonato inglês e pode ter a chance de ficar de fora da Liga dos Campeões da próxima temporada.

No início desta temporada, não havia nenhum indício ou se quer dúvidas sobre as chances de títulos da equipe vermelha. O Liverpool se tornou um time de alta qualidade e regularidade nos últimos anos, ganhando uma posição cativa entre os melhores do mundo, e que não aparentava ter uma queda de rendimento. Mesmo assim, a equipe de Klopp adquiriu sequências ruins, com destaque para uma que ainda perdura: sete jogos seguidos perdendo em Anfield.

Porém, não é como se o trabalho do treinador alemão e o talento dos jogadores tivessem acabado. Houveram diversos motivos para que o Liverpool perdesse a força: lesões, jogadores abaixo do rendimento esperado, elenco escasso e dramas pessoais de Klopp. Com destaque para as lesões, que tiraram mais de sete jogadores durante toda a temporada, incluindo peças fundamentais, como Van Dijk, Henderson, Fabinho e Firmino; além de limitar o elenco na sequência de jogos.

Para uma equipe como o Liverpool, de grandes investimentos e um estilo de jogo bastante claro, pode não parecer problema as lesões, por conta do recheado elenco para suprir algumas faltas. E até certo momento, não foi problema. A equipe inglesa chegou a liderar a Premier League por um certo momento da temporada, mas as lesões de Fabinho e Henderson, cada um em certos momentos, atrapalhou tudo. Ambos estavam jogando improvisados na defesa, pois os dois titulares estavam machucados. O Liverpool já não era o mesmo quando um ou dois deles estavam na defesa; sem eles, piorou.

Como muitos conhecem, os Reds são bastante agressivos: pressionam o portador da bola o máximo e depois, de maneira rápida, ou seja, com toques verticais e com velocidade, tentam marcar o gol. Além disso, ressalta-se a movimentação dos homens de frente, que abrem espaços para os meio-campistas infiltrarem e os laterais, servirem de opção para inversões. Nisso tudo, Fabinho e Henderson fazem um papel importante na construção e na distribuição das jogadas, tirando um pouco do peso dos jogadores mais avançados.

Ao perder os dois no meio-campo, a equipe diminuiu sua capacidade de construir jogadas na fase ofensiva, algo que sobrecarregou os mais avançados que vinham buscar a bola antes. Não é à toa que algumas estatísticas da Premier League caíram, em comparação qual a temporada passada: gols por partida foi de 2.2 para 1.7, assistências por partida foi de 1.8 para 1.03 e o número de chutes fora da área aumentou, com 150 finalizações em 29 jogos contra 174 nos 38 jogos da temporada campeã.

Não apenas do lado ofensivo, como também no defensivo, onde justamente os dois são peças fundamentais. Henderson e Fabinho conseguem manter a defesa mais ativa, o que garante várias posses retomadas e que se tornarão jogadas rápidas para Salah, Mané e Firmino; sem falar na sustentação para que Robertson e Alexander-Arnold possam crescer ofensivamente. Por isso, algumas estatísticas defensivas se destacam, como desarmes por jogo e clearences (quando o defensor afasta o perigo) por jogo, pois decaíram em comparação com a temporada passada, e defesas por jogo aumentou de 2.0 para 2.4.

Tudo isso não quer dizer que as lesões de Henderson e Fabinho tenham sido as únicas responsáveis pela queda de rendimento do Liverpool. Muitas outras causas, como algumas citadas acima, ajudaram a desestabilizar a sequência anual de boas temporadas. Mas o principal ponto é que a função dos dois volantes era essencial para a equipe, e quando eles tiveram que sair de posição ou não jogar, o jogo sistêmico de Klopp ficou comprometido, gerando, em cadeia, outras consequências negativas.

Mas longe do culpado ser o sistema em si. Ele foi um dos responsáveis por colocar essa equipe como uma das favoritas da Europa e de popularizar Jürgen Klopp como um dos messias do futebol moderno. O técnico alemão pode ter culpa por não ter conseguido tirar de sua cartola alguma estratégia que minimizasse os efeitos dos problemas, mas com tantos imprevistos e surpresas no meio do caminho, nem o melhor técnico do mundo conseguiu.

Com isso, é interessante enxergar como a sistematização do futebol pode ser extremamente vantajosa e colocar uma equipe num patamar alto, mas também pode deixar uma equipe com problemas. No saldo, o lado sempre pesará para ter um sistema pronto, pois sempre ficará mais fácil de detectar os problemas e buscar soluções apropriadas. Além disso, a pedida do futebol moderno é essa: jogadores que fazem múltiplas funções, que complementem e auxiliem seus companheiros, juntamente com um comandante liderando uma filosofia. As complicações, as lesões e as surpresas que o Liverpool enfrentou passarão, mas o sistema estará lá, pronto para ajustes ou novas definições para o futuro. 

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