Mesmo sem nenhuma grande estrela no time, o Jazz tem um elenco capaz de bater equipes com superestrelas da liga e liderar a forte Conferência Oeste.
Reprodução/CBS Sports |
Os fãs mais aficionados pela história do basquete, quando lembram do Utah Jazz, provavelmente vão se lembrar do time dos anos 90, que tinha Karl Malone e John Stockton, e travaram batalhas contra o Chicago Bulls de Michael Jordan. A franquia criada em 1974, originalmente em Nova Orleans, mudou-se para Salt Lake City em 1979, e na temporada 1983/84 chegou pela primeira vez nos playoffs. De lá para cá, ou seja, de 1984 até 2021, a equipe perdeu os playoffs apenas sete vezes. Contudo, as duas finais de liga que chegaram, perderam.
Nas últimas quatro temporadas, a equipe de Utah é carta carimbada nos playoffs, porém, agora, vem surpreendendo os seus adversários e chamando atenção dos torcedores rivais. O Utah Jazz lidera a Conferência Oeste com uma campanha de 28-10 (73.7% de aproveitamento), superando grandes equipes na tabela, como Los Angeles Clippers, Los Angeles Lakers e Denver Nuggets. Um dos destaques da temporada foi ter vencido 20 partidas em 21 disputadas, com vitórias sobre 76ers, Bucks, Clippers e Celtics.
Quando procuramos grandes equipes na liga, o mais fácil a se fazer é olhar onde as grandes estrelas se concentram, como nos Lakers e nos Nets. Porém, o Utah Jazz, time que não possui nenhuma superestrela como LeBron James ou Kevin Durant, tem a melhor campanha da liga, e isso gera interesse de muitas pessoas. Essa dúvida cruel na NBA entre draftar jogadores e construir uma base sólida ou juntar alguns jogadores do time e trocar por uma grande estrela é bastante comum. O Los Angeles Lakers e o Brooklyn Nets, por exemplo, trocaram seus futuros por grandes estrelas. O Jazz não.
Desde a chegada do técnico Quin Snyder, na temporada 2014-15, começou-se um processo que demoraria alguns anos pra se fortalecer e mais alguns para se solidificar de vez. Alguns jogadores estão presentes desde o começo dessa mudança de patamar do Jazz, e outros saíram no meio. Em 2020/21, alcançaram algo que vieram construindo há tempos: uma constância e um elenco que fosse pontual para cada necessidade do time.
De contratos renovados para a temporada, Donovan Mitchell e Rudy Gobert são de extrema importância para a equipe. Mitchell é um shooting-guard que consegue ter um ótimo controle de bola e armar a equipe, e vem sendo fundamental para arremessar dos três pontos e trabalhar em jogadas de pick and roll. Gobert é um pivô sem muita mobilidade ou precisão de arremessos, mas é um excelente defensor de garrafão, além de ser um perigo nos pick and roll e rebotes ofensivos. Com a imposição do pivô francês na área pintada, surge espaços para a bola de três, onde a equipe possui cinco jogadores com 40% ou mais no perímetro, com destaques para Bojan Bogdanovic, Royce O'Neale e Joe Ingles.
Mas essa combinação de jogadores e a alta eficiência do time tem dedo do treinador Quin Snyder. O Utah Jazz, provavelmente, seja um dos times mais apaixonados pela bola que vale três pontos, sendo a equipe que mais arremessa, mais acerta e a terceira maior porcentagem de acertos da liga. Mas, não basta colocar bons arremessadores em quadra, é necessário criar situações para que o potencial dos três pontos seja elevado, e é exatamente que Snyder faz. Só a presença de Gobert no garrafão, com a capacidade de criação de Donovan Mitchell, Mike Conley e Joe Ingles, fica mais fácil de dar assistências para o perímetro. O interesse pelos arremessos de longa distância é tão grande que a equipe de Utah é uma das que menos tentam arremessos de dois pontos de toda a liga.
Além disso, a defesa é algo super importante na equipe e ainda atribui mais valor para o elenco. Fora a contribuição nos arremessos longos, muitos dos jogadores são grandes defensores também. Rudy Gobert não é nenhum segredo, mas O'Neale, Bogdanovic e Ingles também são peças chaves na defesa. Outros jogadores como Donovan Mitchell e Mike Conley não são proezas defensivas, mas servem para balancear a equipe, para que ela não fique sem força ofensiva. Com isso, não parece um absurdo o Jazz ter a terceira melhor defesa da liga e o terceiro melhor ataque. Não só um elenco e um estilo de jogo que saiba tirar o melhor desses jogadores, como também algo que muitos times invejam: um banco de reservas a altura.
O estilo de jogo bastante único é repetido na segunda unidade de jogadores. Jordan Clarkson é um dos principais candidatos ao prêmio de Sexto Homem da NBA e responsável por eletrizar o ataque durante a partida. Outros dois destaques vão para Derrick Favors e Georges Niang. O primeiro, que, basicamente, possui os mesmos princípios de Rudy Gobert, e mantém o pick and roll e a influência no garrafão para liberar espaço no perímetro. Já o segundo não é um dos mais eficientes do time, mas na segunda unidade ou misturado com alguns titulares, é um excelente defensor e arremessador de longa distância, ajudando a prosperar o estilo.
Por mais que a falta de jogadores de elite possa ser sentida mais na questão financeira e midiática, no que diz as quadras, o Jazz é uma equipe completa. Pode não ser suficiente para finalmente vencer um título da NBA, mas é um trabalho de muitos anos alcançando bons níveis de competitividade. Com tempo de sobra para trabalhar, Quin Snyder conseguiu, aos poucos, ir tirando o melhor de suas equipes e de seus jogadores, utilizando o seu recheado elenco para firmar seu estilo único. Sem essas peças fundamentais, como Mitchell, Gobert, Bogdanovic e muitos outros, talvez não fosse possível alcançar a primazia nesta temporada.
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