Depois de ter vivido momentos incríveis, o Brasil é uma seleção que sofre muito da realidade do país e dos caminhos que o futebol tomou.
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Antigamente, era comum pensar na Seleção Brasileira e imaginar festas, famílias reunidas em frente à televisão e muita torcida. Até porque era a realidade vivida por muitas pessoas, principalmente daquelas que lembram bem dos jogos no final dos anos 1990 para o começo dos anos 2000. Torcer para o Brasil era uma festa. Aquele futebol alegre, cheio de dribles e contagiante era a marca registrada da seleção no pós-Copa de 2002, e encantava muitas pessoas.
Contudo, nos dias atuais, é visto um cenário pouco harmonioso, mais caótico e menos alegre. A Seleção Brasileira já não provoca tanto entusiasmo na torcida. A Copa do Mundo de 2018, quando o Brasil vivia um bom momento no futebol, não teve o mesmo encanto que as anteriores, e a Copa América, que está acontecendo atualmente, também pouco cativa a população - além de todas as polêmicas em torno dela.
Definitivamente, ser goleado em casa pela Alemanha não foi uma boa ajuda para recuperar a alegria no futebol, mas também não foi a única questão. Até porque, pouco tempo depois, o Brasil estaria se juntando novamente para assistir as Olimpíadas e comemorando o ouro olímpico de 2016. Porém, parece que não foi suficiente, pois a ressaca de uma Copa do Mundo de 2018 que pouco agradou as pessoas e as novas realidades no Brasil e no mundo esportivo ganharam força.
Contexto sócio-político
Diferente do futebol de clubes, as seleções defendem algo maior: a própria pátria. Trata-se de um ato patriota muito significativo, e, ainda, é um dos principais motivos dos jogadores de futebol gostarem tanto de defender o seu país. Os torcedores seguem o mesmo ato patriota dos jogadores, cantando o hino nacional à capela, vestindo suas camisas, usando adereços especiais e, até mesmo, apoiando os jogadores brasileiros em seus respectivos clubes.
Contudo, a situação sócio-política do país se tornou uma grande confusão recentemente. Depois da descoberta que o Mensalão, um dos maiores esquemas de corrupção da história do país, teve um de seus ápices durante a Copa do Mundo de 2010, muitas pessoas começaram a olhar o futebol com maus olhos. Além disso, a situação econômica no Brasil foi cada vez mais piorando, tendo como um dos pilares de discussões os eventos da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Durante a Copa de 2014, acentuou-se bastante os movimentos "Anti-Copa", que ressaltavam a valorização demasiada de jogadores de futebol ao invés de professores ou outros profissionais essenciais. Com o passar do tempo, a situação política nada melhorou: impeachment de Dilma Rousseff, mais um escândalo de corrupção - agora com o presidente Michel Temer - e o país cada vez mais tendo dificuldades.
Apesar do bom momento vivido com a Seleção Brasileira no período de 2016 a 2018, o país já vivia um conflito muito grande com a chegada das eleições. Além disso, o mau desempenho na Copa do Mundo de 2018 caiu de vez as relações boas que haviam se estabelecido anteriormente, nas Olimpíadas.
Hoje em dia, a seleção vive uma relação complicada, pois, ao tentar fugir de qualquer posicionamento, não agrada ninguém e recebe críticas de todos os lados da mesma maneira. Vale ressaltar a crise que existe atualmente - ou sempre existiu - na CBF, que foi uma das organizadoras dessa polêmica Copa América, algo que não agradou ninguém. Sem falar nas denúncias de assédio moral e sexual para o presidente da Confederação Rogério Caboclo. Nenhum desses acontecimentos animam os torcedores que gostam da seleção, ou passam uma boa visão para os mais casuais.
Futebol brasileiro x futebol internacional
Um dos grandes chamativos para assistir os jogos da Seleção Brasileira sempre foram os jogadores em campo. Muitas pessoas acompanharam uma equipe formada por Ronaldo, Robinho, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e muitos outros craques excêntricos e talentosos. Atualmente, não só essa geração é totalmente diferente como também sofre de não ter o mesmo apelo dos jogadores citados acima. Basta entrar numa rede social ou até mesmo conversar com amigos que será possível notar muito saudosismo.
Obviamente, os jogadores atuais não possuem a mesma relevância dos anteriores, mas ainda são jogadores extremamente habilidosos, apesar de muitos discordarem com frequência. A questão é sobre identificação. Entre os jogadores convocados para a Copa América 2021, apenas Weverton (Palmeiras), Éverton Ribeiro e Gabigol (ambos Flamengo) jogam no Brasil. Mas o pior são os jogadores que não tiveram uma grande carreira no Brasil, aumentando ainda mais essa falta de identificação. À exemplo, Ederson, Marquinhos, Firmino e Fabinho são alguns dos muitos que foram conhecidos pela maioria por estarem na seleção.
Apesar de que o futebol internacional esteja crescendo cada vez mais, muitos torcedores, principalmente os mais casuais, não acompanham com tanta frequência ou preferem se manter no futebol nacional. E como os jogadores estão saindo mais cedo do país, visto que na Europa a evolução é maior e mais rápida, qualquer identificação do torcedor com esses jogadores diminui. Na Copa América 2019, um dos destaques foi Everton Cebolinha, não só pelo desempenho como também por ser alguém conhecido do torcedor que acompanha mais o futebol nacional.
No geral, isso se trata de uma consequência da disparidade entre o Brasil para o resto do mundo. Muitos jogadores jovens estão preferindo ir para a MLS, como aconteceu com Brenner, ex-São Paulo, e Thalles Magno, ex-Vasco, do que continuar em seus clubes ou ir para outro time brasileiro. E eles não estão errados em escolher essa opção, dado que o futebol brasileiro, tirando as equipes mais estruturada, ainda se mostra limitado. Enquanto isso, o futebol europeu cresce cada vez mais e até ameaça o futebol de seleções.
A crise no mundo de seleções
Além de dominar todo o calendário do futebol no ano, o futebol de clubes vem ganhando cada vez mais força, principalmente na Europa. Ligas como a Premier League, Bundesliga, La Liga e entre outras, possuem grandes lucros e números de audiência, fazendo com que os salários e a importância delas aumentem. E, claro, o caso da Champions League, que é a principal competição de times e possui uma grande importância no imaginário do torcedor.
Além disso, o futebol de seleções não é remunerado. Como foi dito, a participação na seleção nacional é um grande ato patriota, porque o esforço não é pago e é feito pelo puro amor ao país. Contudo, onde o dinheiro se concentra é que o foco se recai. O fato de o futebol de seleções não estar a todo instante vivendo um grande torneio, pois as copas continentais ou as mundiais acontecem a cada dois anos, é um fator que faz com que o interesse diminua.
Para lidar com isso, a UEFA busca sempre tornar suas partidas de seleções mais relevantes. Com base nisso que foi criada a Liga das Nações, com intuito de fazer as equipes jogarem mais partidas relevantes, e não amistosos sem propósito. Trata-se de uma resistência ao futebol moderno, que cada vez mais suprime a importância e o valor das seleções, as quais já começam a ser questionadas quando algum jogador de uma grande equipe se contunde na Data-Fifa.
No caso do Brasil, o buraco é ainda mais embaixo. Todos os conflitos com seleções aumentam, pois, aqui, não possui Data-Fifa; ou seja, os times perdem seus jogadores em jogos importantes. Além de dificultar a convocação de jogadores que atuam no futebol brasileiro, é mais um estopim para conflitos entre torcedores e Seleção Brasileira.
Portanto, o Brasil mostra que a seleção nacional é apenas um espelho do país e do futebol aplicado por aqui, que apesar de sofrer com a crescente do futebol internacional, paga pelo seu conservadorismo e má gestão dos negócios.
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