A transformação de time desacreditado para campeão da Europa

A jornada do Chelsea até o título da UEFA Champions League, ressaltando o que levou o clube a conquista e os principais destaques.

Divulgação/Twitter Chelsea FC

Depois de derrotar o Manchester City por 1 a 0, com gol de Kai Havertz no primeiro tempo, o Chelsea pôde gritar que é campeão mais uma vez. Na UEFA Champions League, é o segundo título dos Blues, que havia conquistado pela primeira vez em 2012. E, assim como daquela vez, o Chelsea não era o favorito para o jogo, pois a incrível temporada do Manchester City de Guardiola credenciava a equipe de Manchester como favorita.

Não só na final, mas também durante toda a temporada o Chelsea não era acreditado. Após uma temporada 2019/20 surpreendentemente boa, a atual seria para evoluir ainda mais, porém as dificuldades acompanharam o time desde o começo. Com isso, as expectativas de sucesso foram caindo cada vez mais, e nem se quer aumentaram com a chegada de um novo treinador. Contudo, aos poucos, o Chelsea foi crescendo e facilmente encontrando um estilo de jogo ótimo para o elenco. Mas para entender todo processo da temporada, é preciso analisa-lo desde o começo. 

A vida com Lampard

Cada vez é mais comum no futebol atual as lendas dos times se transformarem nos treinadores depois de um tempo. Assim como Zidane, no Real Madrid, e Pirlo, na Juventus, essa estratégia é ótima para manter a cultura do time e colocar uma presença de muito respeito no vestiário. O caso de Frank Lampard, capitão da primeira Liga dos Campeões do clube, é bastante parecido com a dos citados acima, e ainda faria parte de um novo projeto com o Chelsea.

Depois de uma temporada pelo Derby County, Lampard chegou em Stamford Bridge para a temporada 2019/20, numa tentativa de apaziguar a loucura que estava acontecendo por lá. No começo de 2019, o Chelsea sofreu uma punição severa da FIFA, por conta do fair-play financeiro, e foi impedido de contratar novos jogadores por 18 meses; além disso, Hazard, o melhor jogador da equipe, havia sido vendido para o Real Madrid. Com isso, o trabalho de Lampard seria manter a ordem do clube e desenvolver jovens talentos, visto que não podia mais contratar nenhum.

Ao final da temporada 2019/20, as expectativas foram superadas e o Chelsea terminou a temporada na 4ª colocação da Premier League, portanto, estaria na próxima edição da Champions League. Com o fim da punição e uma competição continental pela frente, o dono do Chelsea, Roman Abramovich, abriu os cofres depois de 18 meses juntando dinheiro, e novos jogadores surgiram em Londres. Entre as novas chegadas, estão Kai Havertz, Timo Werner, Thiago Silva, Ziyech, Ben Chilwell. No total, foram investidos mais de 240 milhões de euros em contratações, para que Frank Lampard pudesse trabalhar.

No entanto, esse processo dificultou ainda mais o trabalho do inglês. As novas chegadas bateram de frente com os jovens jogadores que estavam jogando bem no ano passado e tinham espaço, como Mason Mount, Tammy Abraham e Pulisic. Além disso, as contratações entraram em contraste com a filosofia adotada na chegada de Lampard, de valorizar mais os jovens e evoluir a equipe com o tempo. Portanto, esse cenário já não era ideal para o inexperiente treinador, que foi demitido no final de janeiro, dando lugar para um alemão que mudaria tudo.

Thomas Tuchel

Depois de ter sido demitido pelo Paris Saint-Germain, no dia do Natal, um mês e um dia depois ele estava sendo anunciado no Chelsea. E não é à toa que ele passou pouquíssimo tempo sem clube. O trabalho de Tuchel à frente do PSG pode não ter rendido tanto quanto os torcedores parisienses e o dono queriam, mas definitivamente levou àquela equipe ao auge de sua história. Portanto, chegando nos Blues, o alemão teria de ajustar as novas peças - sendo as duas mais importantes, Werner e Havertz, de mesma nacionalidade - com as antigas e, claro, formar uma equipe mais competitiva.

Na sua passagem pelo Paris, ele se destacou por encontrar uma maneira de fazer Neymar e Mbappé jogarem de diferentes formas e em diferentes estratégias. Com isso, ele alterava muito o esquema tático e se mostrava bastante flexível a isso. No Chelsea, ele não precisou ser tão flexível assim, pois encontrou o melhor esquema e um estilo de jogo com velocidade.

E para falar sobre como o Chelsea joga é necessário ressaltar a última palavra do parágrafo acima: velocidade. Uma das grandes características da equipe inglesa é a aceleração na saída de bola, através de passes curtos que, por muitas vezes, superavam a marcação por pressão do adversário. Mais a frente, ainda em velocidade, os jogadores mais ofensivos tinham um grande espaço para explorar as lacunas que a pressão adversária deixou. Um dos triunfos desse estilo de jogo era a força defensiva que a equipe tinha, porque com frequência os adversários não conseguiam superar a defesa e perdiam a posse. 

Mas esse esquema apenas se tornou viável por conta do elenco do Chelsea. Jogadores como Rudiger, Kanté, Mason Mount e Timo Werner são velozes e conseguiam se livrar com facilidade da pressão, por isso Tuchel buscou explorar bastante esse fator em cada jogo. E o fato de muitos jogadores terem evoluído se deu por conta do trabalho de elenco feito pelo treinador. Com Lampard, houveram muitas dificuldades de rodar elenco, deixando muitos jogadores de fora das partidas, e isso foi algo que minou o trabalho do inglês. Já Tuchel conseguiu rodar mais o elenco, salvar jogadores que eram muito criticados - Marcos Alonso, Christensen, Rudiger - e formar boas estratégias para cada confronto.

O mata-mata

Depois de consolidar sua filosofia e o jeito de jogar, a próxima etapa era conseguir colocar as melhores estratégias contra outras equipes bastante polidas taticamente. O resultado, obviamente, foi bastante positivo por conta do título, mas o Chelsea evoluiu com Thomas Tuchel em todas as competições. Na Premier League, depois da chegada do alemão, a equipe inglesa em apenas um turno saltou da 9ª colocação para a 4ª; Na Copa da Inglaterra, chegou na final contra o Leicester - a qual perdeu por 1 a 0 -, mas eliminou o City na semifinal.

Mesmo assim, o grande triunfo foi na UEFA Champions League. Logo de cara, com apenas um mês de trabalho, o Chelsea venceu o Atlético de Madrid, uma das melhores equipes desta temporada, dentro do Wanda Metropolitano, e voltaria a vencer em Stamford Bridge. E é interessante ressaltar o estilo de jogo mais fechado do Atlético, que não favorece a velocidade do Chelsea, mas mesmo assim, através das transições e do desespero do time de Simeone pelo placar no segundo jogo, garantiram a vaga.

Depois de passar dificuldades com o Porto nas quartas de final, o da vez era o Real Madrid, que vivia sua melhor fase na temporada, e tinha os atacantes Vini Jr. e Benzema em boa fase. Mas a defesa do Chelsea fez a diferença, fazendo com que os ingleses superassem mais um estilo de jogo. Na final da competição, era o terceiro encontro de Tuchel com Guardiola, que acabaria com mais uma vitória do técnico alemão, nessa disputa de grandes treinadores. A pressão alta do City foi superada pela aceleração desde a defesa do Chelsea, e o ataque do time de Manchester não teve resposta à defesa forte dos Blues.

Afinal, o campeão da Champions League pode não ter tido um caminho tão conturbado quanto do Manchester City, que enfrentou Dortmund e PSG, mas provou ser uma grande força tática e técnica nesse ano de 2021. O trabalho de Tuchel pode não ser o melhor da temporada, até mesmo pelo curto tempo de trabalho, mas foi o mais eficaz e a principal transformação do Chelsea nesta temporada.

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