[opinião] A ida de Cristiano Ronaldo à Itália não foi em vão

O jogador português não só atribuiu história a sua carreira, como também elevou o cenário futebolístico da Itália.

Reprodução/EFE

Desde 2018 que Turim é a nova casa de Cristiano Ronaldo. Depois de 10 anos defendendo a camisa merengue do Real Madrid, a Juventus foi o seu novo destino, com um propósito bem esclarecido: ganhar outra Champions League. Após três anos no seu novo clube, foram duas quedas nas oitavas de final e outra nas quartas de final, com desempenhos que não foram os mesmos da época de Madrid. Com isso, abriu margem para que muitas pessoas criticassem a passagem do português pela Itália, alegando que as metas e o sucesso esperado não foram alcançados.

Mas após o seu anúncio, quando ele ainda não havia nem estreado em campo, já criticavam sua decisão. Muitos dos fãs de Cristiano Ronaldo o viram apenas no Real Madrid - ou se tornaram fãs mesmo na passagem dele por lá -, onde a identificação era enorme. Diversos recordes foram batidos, o seu estilo de jogo se transformou e criou, ao lado de Lionel Messi, uma das maiores rivalidades da história, tanto entre eles quanto entre suas equipes. 

Contudo, não foi apenas o fim do ciclo que deixou muitas pessoas céticas sobre a decisão. O fato de Ronaldo ter ido parar, especificamente, na Itália não agradou muitas pessoas. Em 2018, o Campeonato Italiano ainda vivia a fase de puro domínio da Velha Senhora, com poucas equipes que pudessem estragar a festa no fim da temporada. Além disso, era claramente um degrau abaixo da Espanha, onde, se você ganhasse a La Liga, era um grande feito porque tinha Barcelona e Atlético de Madrid por lá.

Com esse cenário, muito alimentado por um preconceito com o futebol italiano, a UEFA Champions League ganhava uma importância ainda maior. Se para Cristiano Ronaldo a "orelhuda" era especial, na Juventus era ainda mais. Na atualidade, quem sofre mais com isso é o Paris Saint-Germain, pois é uma equipe bastante poderosa, numa liga francesa que ainda está evoluindo, portanto, o torneio continental se torna o grande sonho da temporada. Apesar da Juventus estar numa liga melhor que a francesa, a expectativa na temporada era similar, e como foi dito, o clube não chegou nem perto disso.

Os insucessos na Champions League aumentaram ainda mais a pressão de Ronaldo na Juve, mas apenas porque o torneio ganhou um aspecto de medição de sucesso. Se ganhar, valeu a pena; se não ganhar, perdeu tempo. Apesar do português ter se transformado numa das maiores figuras da competição, vencendo cinco vezes e sendo o maior artilheiro da história, vencer a Liga dos Campeões não pode ser o único meio de avaliar a passagem dele pela Itália.

Desde a sua chegada na Juventus, foram 133 jogos disputados e 101 gols marcados, uma média de 0.75 gols por partida, que é bem superior a média dele no Manchester United (0.40). Além disso, foram cinco títulos conquistados: duas Serie A TIM, duas Supercopa da Itália e uma Coppa Itália; sem falar no prêmio de melhor jogador do ano na Itália, que ganhou nesta temporada. Ainda, Cristiano Ronaldo se provou numa outra cultura esportiva, que, tradicionalmente, prioriza mais a força defensiva do que a ofensiva.

Também, é necessário ressaltar que a Juventus não foi o melhor local para ele desempenhar o seu futebol. Na primeira temporada de CR7, foram desembolsados mais de 260 milhões euros em transferências - incluindo a dele -, e a equipe parou numa quartas de final de Liga dos Campeões. Com isso, demitiram Massimiliano Allegri e trouxeram Maurizio Sarri, que teve problemas com o elenco, caiu nas oitavas de final da Champions e venceu de maneira pouco convincente um Scudetto. Nesta temporada foi a vez de Andrea Pirlo assumir, mas com um elenco muito mais escasso e pouco competitivo.

Portanto, Cristiano Ronaldo nunca teve um treinador que pudesse dar continuidade a um trabalho. Talvez Pirlo siga no cargo para a próxima temporada, mas essa questão já é diferente, pois a Juventus não é mais aquela equipe poderosa de antes. As altas dívidas da equipe impedem novas contratações de peso, fazendo com que a Velha Senhora viva uma fase nova, de menor competitividade. E por isso que os rumores de saída de Ronaldo são tão fortes.

Apesar dos pontos ruins, o português foi sucesso nos campos e, também, para a liga. Ele foi um dos motivos da liga italiana finalmente ter voltado a chamar atenção, através da sua força midiática que aumentou a procura por pacotes de jogos e a relevância da liga. Na verdade, a Serie A TIM já voltava a crescer desde 2016, mas o atacante foi um catalisador para os negócios e de extrema importância para os lucros de cada ano.

Afinal, Cristiano Ronaldo pode não ter sido o mesmo do Real Madrid, mas é bem possível que essa versão nunca retorne. O contexto, o elenco e aquele momento não irão retornar também. O mais importante é não normalizar o alto desempenho, nem justificar os seus erros como sinal de fracasso total. Só nesta temporada, ele marcou 36 gols em 44 partidas, modificando o seu jeito de jogar, saindo mais da área e com um elenco diferente. Nem tudo é sobre títulos, ou melhor, Champions League.

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