A campanha histórica do Los Angeles Clippers nos playoffs

Superando os traumas do passado e as dificuldades dessa temporada, os Clippers obtiveram a melhor campanha nos playoffs de toda sua história.

Ty Lue conversando com seus jogadores, e Chris Paul do lado.
Reprodução/Los Angeles Times

Antigamente, a relação entre playoffs e Los Angeles Clippers não era das melhores. Desde a sua fundação, em 1985, até o ano de 2011, foram apenas quatro aparições em pós-temporada. Após a ascensão daquela equipe que tinha Chris Paul, Blake Griffin e DeAndre Jordan - eternizado na história da NBA pelas lindas pontes aéreas -, os Clippers foram seis vezes consecutivas para os playoffs. Mesmo com essa sequência, a equipe de Los Angeles nunca havia chegado numa final de conferência se quer.

Por consequência, e até mesmo pelo crescimento midiático da franquia, essa questão dos playoffs foi ganhando relevância, servindo até como piada para os rivais. Principalmente após a chegada de Kawhi Leonard e Paul George na equipe e o fracasso da primeira temporada deles. Contudo, depois de ter batido o Dallas Mavericks e, posteriormente, o Utah Jazz, os Clippers alcançaram sua primeira final de conferência, para enfrentar o embalado Phoenix Suns.

Como todos já sabem, a equipe do estado de Arizona derrotou os californianos, após uma vitória no Jogo 6, encerrando a série num 4-2. Mas o que mais chamou atenção foi a garra e a força dos Clippers, não só na série contra o Suns como também em toda a pós-temporada. Depois de terem perdido a semifinal de conferência com uma vantagem de 3-1 sobre o Denver Nuggets, muitos acontecimentos foram importantes para esta nova mentalidade e sucesso nos playoffs da NBA.

A mudança de emocional

Como mencionado acima, perder uma semifinal de playoffs quando tinha uma vantagem de 3-1 em suas mãos, nunca é fácil. Porém, não era apenas essa questão que segurava a equipe dos Clippers nessa dificuldade emocional. Desde a temporada 2019/20, a equipe californiana começou um processo para se colocar no topo da liga. As chegadas de Kawhi Leonard e Paul George elevaram o nível e foram essenciais para essas duas últimas ótimas temporadas da franquia. Mas também aumentaram o conflito de egos com os remanescentes do elenco.

Não à toa, a saída de Doc Rivers teve como um dos principais motivos a falha em lidar com as novas estrelas. Além disso, os conflitos dentro do elenco também foram notórios, com uma clara indignação dos antigos jogadores contra os novos. Assim, na temporada seguinte, jogadores influentes do vestiário saíram, como Montrezl Harrell e Lou Williams, sobrando apenas Patrick Beverley - um dos indignados. E justamente o assistente técnico, Tyronn Lue, o qual tinha uma relação melhor com os jogadores, ficou.

Nesta temporada, as novas estrelas ficaram mais confortáveis na equipe, mesmo com a pressão maior; novos jogadores influentes, como Serge Ibaka e Rajon Rondo, chegaram; e Lue conseguiu gerir os demais. Mais especificamente nos playoffs, os Clippers estiveram à beira do desastre mais uma vez, começando a pós-temporada perdendo dois jogos em casa para o Dallas Mavericks. Não só viraram a série contra os Mavs, como também contra o Jazz, que também começaram atrás na série.

Mesmo sendo eliminado pelo Phoenix Suns, o Los Angeles Clippers conseguiram superar medos e traumas que adquiriu nesta última década de alto nível. Ao chegar na final da Conferência Oeste, eles enfrentaram fortes adversários e superaram as lesões e a pressão intensa. E esse novo emocional, fomentado pela nova realidade da temporada 2020/21, foi essencial para poder ganhar partidas quando mais se precisava. 

Um elenco completo

Não é de hoje que a equipe de Los Angeles tem um bom elenco. No ano em que Kawhi e George chegaram, os Clippers se tornaram em um dos melhores elencos de toda a NBA. Afinal, tinha dois dos melhores jogadores vindos do banco da liga, Williams e Harrell, além de outras peças fundamentais, como Beverley, Marcus Morris e Reggie Jackson - os dois últimos chegaram no decorrer da temporada. A variedade de bons nomes foi importante para garantir a segunda melhor campanha do oeste, na temporada regular. Porém, deixaram a desejar na pós-temporada daquele ano.

Por outro lado, a equipe de Ty Lue não manteve a mesma constância da de Doc Rivers, mas chegara mais longe na pós-temporada; e apresentando um melhor basquetebol. Além do trabalho de Lue nos bastidores, ajudando a controlar o emocional dos jogadores, ele conseguiu encontrar uma equipe que pudesse cooperar bem com as estrelas da franquia. As chegadas dos experientes Batum, Rondo e Ibaka foram importantes não só no vestiário, como também servindo de liderança na quadra. Sem falar em Reggie Jackson, que fez grandes jogos nos playoffs, virando até uma das referências do time.

Portanto, apesar de muitas peças daquele Clippers da temporada passada serem importantes, o elenco desta se mostra mais oportuno e equilibrado, com jogadores que são importantes na defesa e no ataque. Assim como o Terance Mann, jovem de Florida State em sua segunda temporada de NBA, que assumiu a titularidade após a lesão de Kawhi. Ainda por cima, mesmo que ainda houvessem jogadores mais específicos, o caso de Luke Kennard, Ivica Zubac e DeMarcus Cousins, eles eram bem utilizados. Afinal, um dos triunfos de Los Angeles foi justamente não ser teimoso com a equipe.

A humildade de aceitar os ajustes

Parece bobo, mas é um grande fato durante os playoffs. Apesar de serem grandes treinadores dentro da NBA, muitos deles tem dificuldade em abrir mão daquilo que funcionou na temporada regular, e que não tem o mesmo rendimento na pós-temporada. Por coincidência ou não, Doc Rivers é um desses, e a falta de criatividade ofensiva foi um problema para os Clippers em 2020. Na real, dificilmente um Head Coach levará sua franquia ao título se não souber ajustar. Ou seja, aceitar que está errado e buscar uma nova solução.

Antes de mais nada, Ty Lue também não é um grande estrategista e, também, não possui grandes habilidades em ajustar. Todavia, toda vez que precisava ajustar ou abrir mão de algo, ele fez, mesmo que demorasse. Quando Luka Doncic estava, sem dó, aproveitando a lentidão de Zubac na defesa, Lue tirou o bósnio de quadra. Levou alguns jogos para isso? Com certeza, mas o fez. Não à toa, a formação em small ball, que geralmente tinha Batum como pivô na maior parte do tempo - ou Marcus Morris -, foi a grande formação dos Clippers.

E, sem dúvidas, a equipe do estado da Califórnia alterou seu estilo de jogar para se adequar aos adversários. Isso pode parecer um mérito muito tático, mas também é um sinal de confiança dos jogadores na comissão técnica. Na série contra os Suns, era nítido o empenho de Paul George, que muitas vezes tinha que marcar o pivô DeAndre Ayton. Em suma, os Clippers, mesmo não conseguindo o melhor dos prêmios, regenera a sua confiança e a do torcedor. Além disso, essa jornada pode fazer com que Kawhi Leonard renove o contrate e dê muitos anos de competitividade à franquia.  

LEIA TAMBÉM:

Comentários