Mesmo com a tendência de grandes astros se unirem na liga, os melhores times da NBA, atualmente, têm em comum a qualidade do elenco no geral.
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Reprodução/AP Photo/Eric Gay |
Obviamente, é comum que as estrelas da liga precisem de jogadores de extrema eficiência. O Los Angeles Lakers, campeão da temporada 2019/20, não conseguiria esse feito sem a chegada de Anthony Davis para auxiliar LeBron James. Porém, depois de uma temporada seguinte abaixo das expectativas, a contratação de Russell Westbrook carimbou a "panela" em Los Angeles. Essa união de três grandes jogadores nos Lakers só aconteceu devido à movimentação que um rival fez durante a temporada 2020/21. Os Nets, de Kevin Durant e Kyrie Irving, trouxeram James Harden, criando assim uma das maiores uniões de grandes jogadores da história.
Além disso, podemos ressaltar o último campeão, o Milwaukee Bucks, que também é uma "panela". Por mais que Khris Middleton e Jrue Holiday possam não ter o mesmo calibre dos jogadores acima, são extremamente regulares e capazes de transformar qualquer equipe. Outro exemplo, e mais recente, da Conferência Leste, é o Chicago Bulls, que trouxe DeMar DeRozan, Nikola Vucevic e Lonzo Ball para ajudar Zach LaVine. Essa é uma "panela" bem mais moderada e ainda muito jovem, mas com potencial suficiente para chegar longe.
Apesar dos bons exemplos atuais, essa junção de grandes atletas não é algo novo. Na temporada 1996/97, para tentar derrubar o Chicago Buls de Michael Jordan e companhia, o Houston Rockets já chegou a ter a sua estrela Hakeem Olajuwon ao lado de Clyde Drexler e Charles Barkley. Outras duas uniões mais recentes são as de James, Bosh e Wade, em Miami, e a de Curry, Thompson, Green e Durant, nos Warriors.
Apesar dessas duas recentes terem dado certo, a dos Rockets, nos anos 90, não conseguiu o título, assim como uma outra "panela" famosa, dessa vez nos Lakers. Em 2004, um time com Gary Payton, Karl Malone, Kobe Bryant, Shaquille O'Neal e Horace Grant, com Phil Jackson de treinador, perdeu as finais da NBA para um modesto Detroit Pistons de Ben Wallace e Chauncey Billups.
A verdade é que, economicamente falando, as "panelas" são extremamente positivas. Pois, as arenas ficam lotadas, a atenção dos fãs e da mídia está no time e o valor de vendas e merchandising só crescem. Por outro lado, internamente, é difícil lidar com tantos egos e jogadores bem-sucedidos. Além disso, não são todas as grandes estrelas que se comprometem completamente com um time: eles não são aquelas abelhas operárias, que disputam todas as bolas e carregam o piano para os demais.
Para os fãs, o sentimento é bastante conflitante porque as pessoas anseiam pela criação de um time perfeito. Não é à toa que o All-Star Game seja tão prestigiado pelos amantes da bola laranja, pois é o momento que os melhores jogadores se unem e enfrentam outro time incrível. Mas também, muitos não querem ver a sua franquia favorita (ou a dos outros) apelando para vencer. A narrativa da equipe bem estruturada e capaz de derrotar pelo seu coletivo é fascinante e constrói muitos fãs. Por sorte, nesta temporada, os melhores times são coletivos e donos de estilos cativantes.
A coletividade e o trabalho daqueles que comandam a NBA atual
Primeiramente, antes de ressaltar o trabalho coletivo de algumas equipes, é necessário destacar porque elas são contrárias ao modelo de "panelas". Basicamente, o teto salarial da NBA limita a compra de jogadores por valores exorbitantes. Mas, querendo ou não, pode ser feito algumas manobras para que o máximo de jogadores fora do comum apareçam nos elencos.
Nos Lakers desse ano, por exemplo, Westbrook, James e Davis ocupam quase toda a folha salarial, enquanto os demais recebem muito menos. Porém, os outros recebem muito menos porque, de fato, eles não estão nem perto do nível dos principais jogadores. Nesse sistema, não há jogadores muito acima da média, apenas estrelas da liga e jogadores medianos, que buscam ascender e conquistar espaço.
Por outro lado, quando você possui um elenco mais equilibrado, existem mais peças para trabalhar e mais jogadores para confiar. Ao invés de ter um elenco muito enxuto e dependente das estrelas, outros atletas têm sua importância. Se a equipe tiver pelo menos uma estrela ou um jogador capaz de acabar qualquer partida, o trabalho dele será muito menor. Porém, mais fácil para as defesas o conterem.
Atualmente, os principais times da liga são coincidentemente da Conferência Oeste, mas não coincidentemente são equipes que utilizam o máximo do seu grupo. Phoenix Suns (34-9), Golden State Warriors (32-12) e Memphis Grizzlies (31-16) lideram não só a conferência, mas também toda a NBA. Ainda do lado oeste, mas um pouco mais abaixo, está o Utah Jazz (29-16), que também é lembrado pelo seu estilo coletivo.
A maior surpresa entre essas equipes é o sucesso dos Grizzlies e o retorno do bom basquetebol dos Warriors. Por outro lado, Suns e Jazz já são conhecidos por esse estilo e já provaram isso na temporada passada, mas, certamente, destacaram ainda mais sua excelência com as campanhas até então.
Apesar das estrelas de Stephen Curry e do jovem Ja Morant, o maior triunfo dessas duas equipes é a capacidade de jogar coletivamente, algo que não só potencializa o time num geral, como também as estrelas. Primeiramente, nos Warriors, o estilo já é bastante conhecido: muitas movimentações fora da bola, a busca pelo melhor arremesso de três e jogadores com funções bastante claras. O banco, da mesma forma, tem suas qualidades únicas e conseguem complementar e substituir com eficiência os titulares.
No lado dos Grizzlies, a principal estratégia são os contra-ataques. Mas, isso só é possível com uma forte defesa, graças às presenças de Jaren Jackson Jr, Steven Adams e Desmond Bane. Porém, no jogo de meia quadra, a equipe consegue se virar muito bem também, utilizando-se da velocidade no pick and roll de Ja e, também, do trabalho de mão em mão de todos.
Nos Suns, resumir o melhor time da NBA em Chris Paul não seria errado, mas é algo bastante raso. Afinal, a equipe de Monty Williams consegue reger uma verdadeira orquestra em quadra, com movimentações sincronizadas e diversas qualidades para cada atleta. Paul e Booker conseguem fazer uma ótima dupla no backcourt, com Ayton e Mikal Bridges completando muito bem, no frontcourt. No Jazz, o cenário também é muito parecido: muitas movimentações, jogadores pilares, como Rudy Gobert e Donovan Mitchell, e um grande apreço pelas bolas de perímetro.
Trocando de conferência, o cenário por lá é bastante equilibrado. Bucks e Nets são duas "panelas", com a segunda sendo mais forte e intensa. Bulls têm um elenco muito jovem para ser considerado um time apelativo para os fãs, mas encanta e conquista resultado pela variedade de jogadores que possui. Porém, nos 76ers, não há muitos jogadores para confiar, e o peso do time cai sobre as costas de Joel Embiid, o qual lida muito bem com isso. Porém, se falamos de coletividade, o Heat não pode ficar de fora dessa conversa.
A equipe Erik Spoelstra é conhecida pelo desempenho defensivo, mas também pelo comprometimento em um ataque compartilhado. Por isso, jogadores como Jimmy Butler e Bam Adebayo, que conseguem desempenhar várias funções e serem importantes na conjuntura ofensiva, ganham tantos minutos. Além disso, vale ressaltar que o Miami Heat passou por momentos com muitas lesões no elenco e mesmo assim consegue se manter em 2º lugar na Conferência Leste.
"Panelas" x times coletivos
O conflito entre esses dois jeitos de comandar uma equipe é quase filosófico e até mesmo determina valor. Muitos fãs acreditam que a união de grandes jogadores num time só é algo errado, enquanto outros só esperam o espetáculo. Mas, querendo ou não, a chance de conquistar títulos é mais fácil com essa junção de grandes atletas. É o que os títulos recentes mostram, desde a época de LeBron James em Miami até a chegada de Jrue Holiday, para consolidar os Bucks.
Apesar dos times coletivos serem mais vistosos e agradarem muito mais os fãs - isto num valor simbólico -, possuem mais dificuldades em conquistar títulos e decidir partidas. Afinal, com menos estrelas, mais fácil as defesas podem se armar contra a estrela solitária num time e nem sempre o coadjuvante será capaz de acertar aquela bola ou desequilibrar completamente nos setes jogos de uma série de playoffs.
Portanto, a grande chave pode ser encontrada num meio termo disso tudo: elenco recheado e, também, estrelas. Além disso, vale ressaltar a necessidade de construir suas próprias estrelas, porque sai mais barato e demanda menos esforços para isso. O Milwaukee Bucks moldou as estrelas de Giannis e Middleton, assim como os Warriors, que tiraram o eixo principal de sua equipe (Thompson, Curry e Green) do Draft. Esses elementos são fundamentais e não podem ser esquecidos.
Contudo, não existe receita de bolo para vencer a NBA. Os atletas que chegam lá e conquistam a história são especiais. Alguns talvez nunca chegarão lá, mesmo que tenham feito de tudo e mais um pouco nesta liga. Esse ano talvez seja o ano de premiar os elencos fortes e bem estruturados, ou talvez não. O destino ainda parece muito aberto para qualquer possibilidade. Se aquela cesta de Kevin Durant no jogo 7, contra os Bucks, fosse de três e não de dois, talvez essa conversa nem fosse relevante.
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