Liderados pelo grego Giannis Antetokounmpo, os Bucks alcançaram o título da temporada 2020/21 da NBA.
Reprodução/AP Photo/Paul Sancya |
Muitas vezes é difícil notar, mas a história está constantemente aos nossos olhos. No caso das finais da NBA, é bastante notório que se trata da mais pura história acontecendo. Porém, dentro de uma série de sete jogos, perder muitos momentos incríveis ou subestimar acontecimentos é normal. Por outro lado, quando algo, de fato, muito histórico acontece, não existe a menor dúvida de que muitas pessoas vão se arrepiar ao rever determinados lances no futuro.
Após a vitória no Jogo 6 das finais da NBA de 2021, o Milwaukee Bucks se sagrou o mais novo campeão da maior liga de basquete do mundo. Ainda por cima, foi conquistado de forma incrível, com 50 pontos de Giannis Antetokounmpo e uma virada de 2-0 para 4-2 na série. Assim, 50 anos depois do primeiro campeonato, os Bucks podem comemorar novamente. Até porque derrotaram uma equipe extremamente poderosa, o Phoenix Suns. Juntos, eles fizeram uma das grandes séries dos últimos anos.
Contudo, para chegar nessa glória, eles tiveram que arriscar muito. Após a eliminação para o Miami Heat, na bolha da Disney, uma pressão enorme caiu nas costas da franquia. Além da necessidade de triunfar, ainda tinha a questão contratual de Giannis. Ou seja, se a diretoria não acertasse no planejamento para essa temporada, uma das maiores estrelas dessa geração poderia abandonar a cidade de Milwaukee. Foi nesse tranquilo plano de fundo que a temporada dos Bucks teve início.
Colocando os pés no chão
Depois das eliminações para Toronto Raptors e Miami Heat nos playoffs, os Bucks precisaram mudar a abordagem. Essas derrotas foram bastante doloridas, pois havia uma expectativa muito grande criada durante a temporada. Afinal, Milwaukee conseguiu ter a melhor campanha regular naqueles dois períodos. Mas, quando chegava aos playoffs, encontrava equipes bem preparadas e com capacidade de defender muito bem seus jogadores.
Nesta temporada, os Bucks pararam de ser essa equipe arrasadora. Assim, eles abriram mão de vencer com facilidade os jogos e decidiram inovar, buscar novas maneiras de se vencer e jogar. O próprio técnico Mike Budenholzer, conhecido por ser alguém que pouco altera sua equipe, se viu fazendo ajustes que foram essenciais para a equipe. Portanto, jogadas de pick and roll entre Giannis e Khris Middleton, quintetos sem pivô de ofício e troca de marcações, foram mecanismos para adaptar e crescer o repertório do elenco.
Com isso, facilitou ainda mais tomar uma atitude séria quando fosse preciso. Na jornada até o título, foi notório a capacidade dos Bucks em se ajustar e buscar soluções. Quando a equipe tinha dificuldades de criação ofensiva, na outra partida tinha alguma ideia nova. Se Devin Booker e Chris Paul tinham muita liberdade nos arremessos de meia distância, a comissão técnica e os jogadores tentavam buscar maneiras diferentes de conter ambos.
De fato, não é fácil trocar de tática ou mudar o estilo em momentos tão cruciais. Muitas vezes a pessoa só quer confiar naquilo que ela acreditou por meses. Mas, tratando-se de finais de NBA, qualquer treinador precisa de repertório. E, justamente, ter sido mais maleável na temporada regular deu mais confiança para as mudanças acontecerem nos playoffs. Contudo, para uma equipe ganhar repertório ela precisa ter uma base sólida, algo que os Bucks já tinham há um tempo.
A defesa como principal elemento
A princípio, pode parecer estranho a principal característica da franquia ser a defesa. Até porque os Bucks têm o 7º melhor ataque da liga, com 117.2 pontos a cada 100 posses de bola - um dos maiores de toda a história. Apesar dessa temporada não ter sido a melhor da defesa, nos últimos dois anos a equipe era disparada a melhor defesa. Nos playoffs, foi bastante perceptível a eficiência defensiva, conseguindo reduzir o Brooklyn Nets, melhor ataque da liga, à partidas de 80 pontos apenas.
Além disso, se o ataque dos Bucks é assim tão forte, a defesa tem grande parcela nisso. Afinal, uma das principais jogadas do time é o contra-ataque. Portanto, para conseguir ataques rápidos em transição, é necessário trancar a sua cesta de maneira muito eficaz. Além disso, jogar dessa maneira tendo Giannis Antetokounmpo no elenco é ótimo. O ataque pode ser realmente muito bom, mas dentro de muitas partidas na pós-temporada, era visível o quanto era limitado tentando criar jogadas.
Sob o mesmo ponto de vista, as principais jogadas que as pessoas lembrarão dos Bucks nas finais da NBA serão defensivas. O toco de Giannis em DeAndre Ayton e a roubada de bola de Jrue Holiday no Jogo 5 são alguns desses exemplos. No geral, a equipe da cidade de Milwaukee infernizou os ataques adversários em todas as séries, algo que, durante sete jogos, desgasta o repertório e a energia do rival.
Com isso, a excelência defensiva do mais novo campeão da NBA pode ser bastante resumida pelas próprias individualidades. Obviamente, nesse cenário, a figura de Jrue Holiday salta aos olhos. Ele possui uma capacidade grande de marcar qualquer jogador, de maneira física, incômoda; marcando de Chris Paul até Kevin Durant. Além disso, o próprio Giannis, defensor do ano em 2019/20, é presença importante na cobertura defensiva. Com talentos muito grandes, os Bucks raramente precisavam dobrar em alguém. Ou seja, não sobrava ninguém livre de marcação.
Apesar de muitos não acreditarem, o técnico Mike Budenholzer é um dos grandes responsáveis por essa virtude. Antes de chegar na equipe, na temporada 2018/19, os Bucks tinham a 19ª melhor defesa da liga. Depois do "Coach Bud" aterrissar em Milwaukee, foram duas temporadas seguidas sendo a número um. Não à toa, sua antiga equipe, o Atlanta Hawks, tinha a mesma força defensiva nos melhores dias, principalmente a da temporada 2015/16, que foi a 2ª melhor da liga.
Giannis Ugo Antetokounmpo
Todavia, qualquer nível elevado de basquetebol e competência para ganhar o campeonato tem muita influência de Giannis Antetokounmpo. Ainda em 2013, foi draftado na 15ª escolha geral, vindo da 2ª divisão da Grécia. Na época, todos sabiam que se tratava de um projeto de longo prazo, um jogador para o futuro, mas ninguém imaginava o que ele poderia se tornar. Depois de muitos anos adquirindo força física e se adaptando ao basquete norte-americano, Giannis finalmente conseguiu crescer na liga.
Com isso, começou a chover premiações: jogador que mais evoluiu em 2016/17, MVP da liga em 2018/19 e 2019/20, defensor do ano em 2019/20, MVP do All-Star Game de 2021 e figurinha carimbada nos melhores quintetos da liga por anos. Com uma jornada totalmente diferenciada, o grego de nome esquisito chegou para impactar a liga com sua capacidade atlética, sua humildade e seu carisma único.
Mesmo assim, como todas as estrelas da liga, ele apanhou muito. Principalmente depois da derrota na série contra Miami. Assim, nesta temporada, ele chegou num ambiente bastante complicado, com um futuro incerto e muitas dúvidas sobre sua capacidade de comandar uma equipe. Apesar de suas habilidades serem completamente reconhecidas, as dificuldades em arremessos - algo bastante cobrado na NBA atual -, até mesmo de lance livre, dificultavam ainda mais sua posição entre os melhores jogadores da liga.
Mas, o impacto de Giannis para o Milwaukee Bucks é surreal. Não só porque se trata de uma franquia de mercado consumidor pequeno e precisa de grandes jogadores, mas também por conta do aspecto emocional. Com tantas críticas, contagens durante os lances livres, fracassos nos playoffs e, também, lesões que pareciam sérias, ele ainda foi capaz de superar tudo. E como não passar uma imagem de confiança e estabilidade, sendo que, apesar de tantos problemas, ele continua em alto nível e não cedendo às narrativas contrárias? Qualquer companheiro ficaria mais tranquilo ao lado dele.
Em suma, depois de uma grande série de playoffs e um Jogo 6 histórico, Antetokounmpo sai, metaforicamente, gigante. Sua jornada não só marca uma história de superação pessoal, como também de esforço coletivo, de fazer por ele e por todos ao redor. Não à toa, a figura de Giannis é uma inspiração para muitas pessoas ao redor do mundo. Ainda mais, para aquelas pessoas que não sonhavam em sair da caverna e encontrar um mundo aos seus olhos. Para isso, elas encontraram a figura do mito, que saiu de lá e conquistou o dele.
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