O que podemos aprender com a série "Neymar: O Caos Perfeito", da Netflix?

A série documental do brasileiro mostra uma visão mais profunda da vida de jogador, do mundo esportivo e sobre quem é, de fato, Neymar Jr.

Divulgação/Netflix

Neste último dia 25 de janeiro, estreou a série documental de Neymar na Netflix: "Neymar: O Caos Perfeito". Nos últimos anos, há uma crescente de séries documentais, que variam de jogadores, times e até histórias completas. A mais famosa, também da Netflix, foi o "Arremesso Final", que conta a história de Michael Jordan e do Chicago Bulls dos anos 90. Porém, no âmbito futebolístico, a série "All or Nothing", da Amazon Prime Video, é referência.

Agora, a série de Neymar apresenta toda a história do brasileiro, desde sua infância até o final da temporada 2020, passando pelas glórias, lutas e pontos cruciais da vida do atleta. Certamente, falta muita coisa pra falar, pois a carreira dele ainda está acontecendo. No entanto, conseguimos tirar algumas conclusões preciosas sobre a figura de Neymar Jr. e da vida profissional de um atleta de alto rendimento.

O outro lado do jogador profissional

Jogar bola é um ato muito simples. Pelo menos para nós, meros mortais. No âmbito profissional, esse cenário se transforma completamente, exigindo muito mais do que a habitual paixão de viver um sonho. Durante os três episódios da série, vimos profundamente como a vida dentro do esporte é. Não se trata da pressão dos torcedores ou das dificuldades no esquema tático ou elenco, mas, sim, do trabalho, seja físico ou de escritório mesmo.

Um atleta global e que precisa lidar com tantos contratos necessita de uma equipe preparada. Sendo assim, a NR Sports tem uma presença enorme durante a série, principalmente com a figura do pai. Aliás, Neymar Pai provavelmente ganhou mais repercussão na internet do que o filho com a série. Sua presença constante nos negócios, no marketing e na gestão de carreira, ou seja, a vida como empresário, chamou muita atenção, principalmente por ele ser o pai.

Reprodução/Metropoles

No entanto, apesar de sofrer muitas críticas, Neymar Pai possui uma função enorme no gerenciamento e na força que Neymar tem como jogador no mundo. O trabalho de marketing, além das próprias qualidades e estilo de vida do atleta, é fundamental para reforçar a presença do brasileiro no imaginário de todos os conterrâneos dele. Além disso, o pai consegue ser o maior escudo do filho, que não precisa lidar tanto com tudo isso e possui alguém de extrema confiança à frente de sua carreira.

Por mais que seja complicado ter que lidar com isso, é extremamente necessário. A sociedade atual e o momento da nossa história pedem muito conteúdo, mas também profissionalismo em tudo. Além disso, aqueles que não destacam se perdem na história, ficando menores do que foram. Ou seja, o trabalho de marketing, não só de Neymar, como também de qualquer outro atleta, é fundamental. E Neymar Pai é peça chave para tudo isso.

A condição do jogador brasileiro

Realmente, construir sua própria imagem e fortalece-la ainda mais é um triunfo. Por outro lado, cria algo que pode destruir e frustrar as pessoas: expectativa e cobrança. É ótimo ser colocado como um grande, como o cara que bate de frente com os gênios geracionais Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Porém, a expectativa sobe, muito maior do que já tivemos quando ele despontou no Santos. Como consequência, a cobrança também aumenta, até mesmo criando um ambiente crítico e pesado.

Portanto, o jeito de ser e a vida particular de Neymar ganha completamente os holofotes. A responsabilidade que ele tem na Seleção Brasileira é de recuperar as glórias e apresentar um futebol que é referência mundial pelo talento. E isso é argumento suficiente para criticarem a filosofia de vida dele. Desde o começo da carreira, sempre vimos o Neymar curtir bastante sua vida, aproveitar o dinheiro e a fama e curtir muito o momento com amigos e família. E, sinceramente, não tem problema nisso, mas a posição que ele ocupa, a persona construída e o peso que carrega transforma o que é extremamente natural.

A série mostra detalhadamente as questões que giram em torno desse assunto, desde a posição do Neymar até a opinião pública, seja de torcedores ou de jornalistas. A impressão que fica é que tudo isso parece perseguição, mas perseguir o Neymar e se preocupar com tudo da vida dele só reforça a importância e o tamanho dele. As comparações que fazem dele é com Ronaldo e Messi, o que, claramente, é para diminui-lo, porque a única comparação possível com eles é um com o outro. Mas isso mostra a força que Neymar tem.

Além disso, a explicação para essa questão de vida pessoal e profissional de Neymar é fácil, porém complexa: trata-se de algo da nacionalidade brasileira. Adriano, que abandonou o futebol por conta de não encontrar a identificação que tinha na Vila Cruzeiro; Romário, que largou a Europa no auge de seu futebol para voltar ao Rio de Janeiro; Ronaldinho, que abraçou a vida de curtição depois de ter conquistado tudo. Todos são autoexplicativos. O brasileiro, depois que alcança o topo, quer curtir esse sonho e essa condição, porque nunca teve isso e nunca sabe até quando terá. Isso vai além do futebol e dos sonhos de ganhar títulos. É sobre família e vida, algo que, no Brasil, são assuntos intocáveis.

Reprodução/Diário do Centro do Mundo

Uma definição maior da imagem de Neymar

Com toda essa construção e várias narrativas sobre o atleta e pessoa Neymar, a série consegue chegar num esboço - até porque o final só teremos na aposentadoria dele - sobre a figura. Primeiramente, buscam humanizar a pessoa, afinal ele parece tão distante da nossa realidade que é necessário colocá-lo perto da gente. Isso acontece através de muitas cenas com o filho, conversando com os fãs, trocando ideia com os parças.

Porém, o documentário não esconde as imperfeições, as atitudes erradas e as polêmicas que ele teve nesse caminho, assim como as críticas que tanto falaram da vida pessoal dele. Na verdade, a principal intenção é colocá-lo como um verdadeiro ser humano, não distante de você, capaz de errar também. A única diferença é a proporção: qualquer passo e atitude dele é extravagante e tem um peso muito grande, o qual ele precisa lidar e dar a volta por cima sempre.

E justamente nos percalços, nos piores momentos e onde a descrença mora, ele se engrandece. Seja apanhando dos uruguaios na final da Libertadores, calando os críticos nas Olimpíadas de 2016 ou passando pela fase ruim no PSG, Neymar sempre tinha uma resposta à altura. A série pode não ter dado todos os detalhes do mundo, mas em apenas três episódios, conseguiu explorar as fases da lua do brasileiro, colocando-o não como Batman ou Coringa, mas como alguém normal, por mais que ele e sua vida não sejam nem um pouco parecido com a concepção de normal.

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