O atual campeão italiano e mais novo vencedor da Supercopa da Itália teve baixas imprescindíveis, mas repôs todas de maneira correta e está colhendo os frutos disso.
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Divulgação/Twitter/INTER |
Depois de tantos anos de dificuldade, os torcedores da Inter de Milão, uma das equipes que mais se popularizou no Brasil, principalmente na primeira década deste século, voltaram a ser campeões. A conquista da Serie A da temporada 2020/21 não só trouxe de volta o que é ser campeão, mas também derrubou uma hegemonia de nove anos da rival de Turim, a Juventus.
A última vez que tinha vencido o campeonato nacional foi em 2010. Após esse título, o time passou por um desmanche, principalmente no elenco, que estava envelhecido e sem peças de reposição à altura. Além disso, o clube passou por dois processos de venda, com o primeiro acontecendo em 2013 e o segundo, em 2016, para a empresa chinesa Suning Holdings Group. Portanto, a situação que vivia nos bastidores refletia dentro de campo, com campanhas e temporadas bem abaixo.
Depois de algumas temporadas evoluindo e até aparecendo na UEFA Champions League, a Inter voltou ao seu lugar de protagonismo. Um dos principais elementos dessa reviravolta é, também, a pessoa que liderou o clube por dois anos: Antonio Conte. O técnico italiano já provou diversas vezes o seu talento e qualidade na área técnica, e o seu trabalho na Nerazzurri só melhorou seu portfólio. As contratações de Lukaku, Eriksen, Hakimi e outras aconteceram nesse período, justamente para evoluir o clube e alcançar a glória italiana na metade de 2021.
No entanto, muito diferente desse processo lento de reconstrução, que durou anos e anos, passou por duas vendas, viu diversos jogadores saírem e chegarem, parecia chegar ao fim com muita rapidez. Pois, com uma crise acontecendo nas empresas chinesas, a Inter de Milão sofreu essas consequências e precisou não só deixar grandes jogadores, como Lukaku e Hakimi, partirem, mas também perder aquele ímpeto forte que havia adquirido no mercado da bola.
Com isso, a saída do técnico Antonio Conte foi eminente, dado que o treinador preza muito pela competitividade e grandiosidade nos seus trabalhos. Antes da temporada começar, essa justamente era a noção que muitos acreditavam: a Inter de Milão desceu alguns degraus e não é mais tão forte assim. Acresce ainda, a mudança estrutural que o clube sofreu, alterando o seu escudo, o estilo dos uniformes e repaginando o marketing, aumentando ainda mais a ideia de "um novo momento".
Divulgação/Twitter/Inter BR |
Mas, surpreendentemente, a equipe que parecia estar em decadência é a atual líder da Serie A TIM, com mais da metade do campeonato passado. Além disso, passou para as oitavas de final da Champions League e venceu, recentemente, a Supercopa da Itália, derrotando a equipe da Juventus por 2 x 1. Ou seja, as saídas não foram suficientes para derrubar a equipe completamente.
O grande mérito dos Nerazzurri foi a excelência no mercado de transferências, seja no de jogadores quanto no de treinadores. Pois, a chegada do ex-técnico da Lazio, Simone Inzaghi, manteve o mesmo padrão imposto por Conte, mas com peças de menor grife. No lugar de Lukaku, chegou Dzeko, que fez grandes temporadas pela Roma; para Hakimi, Dumfries chegou para manter a velocidade pelo lado direito; por fim, no lugar de Eriksen, Hakan Çalhanoglu pulou o muro do rival Milan e, hoje, é peça chave no meio-campo azul e preto.
Seria descredibilizar o trabalho feito resumir as contratações como sorte. Porque, definitivamente, foram pensadas e certeiras. O legado de Antonio Conte está além de sua personalidade forte e ambição, está no estilo de jogo. Ou seja, a chegada de Inzaghi está relacionada ao estilo da Lazio nos últimos anos, que se assemelhou muito ao que o ex-treinador da Inter fez. Saída de bola rápida, bastante velocidade com os pontas, pivô do centroavante na criação de jogadas... Sem falar do lado defensivo, com a marcação pressão e o bloco médio, em alguns momentos.
O grande ponto é que as tantas mudanças que o clube sofreu tiveram um impacto menor justamente por possuírem a mesma mentalidade. Obviamente, Simone Inzaghi não é uma cópia de Antonio Conte, sempre tem detalhes que diferenciam um do outro, e, principalmente, a metodologia para chegar no objetivo principal.
Mas essa consciência sobre o que os jogadores podem oferecer e qual o melhor jeito para tirar deles é para poucas equipes. Tudo fica mais fácil. As contratações começam a ter uma linha de raciocínio mais pronta, assim como a procura dos olheiros e analistas de desempenho por atletas ficam mais fácil. Esse trabalho é fundamental, e o resultado pode ser visto nessa transição da Inter.
Além disso tudo, um triunfo muito interessante foi o ataque no mercado de transferências italiano. Apesar de que Dumfries estivesse jogando no PSV, da Holanda, Dzeko e Çalhanoglu eram peças importantes de outras equipes, que, sem dúvidas, tiveram que se mexer para tapar os buracos deixados nos elencos. Portanto, com isso, a Inter de Milão diminuiu mais ainda o tempo de transição, pois suas novas peças já estavam acostumadas com o futebol italiano. E, como gran finale, ainda enfraqueceu seus adversários. Essa é uma estratégia que o Bayern de Munique faz bastante na Alemanha, não à toa que domina o país.
Por outro lado, eles poderiam seguir um outro caminho, mudar radicalmente e voltar às antigas. Afinal, José Mourinho, a figura que trouxe uma tríplice coroa na temporada 2009/10, estava sem time e poderia voltar para o lugar onde foi muito feliz. Mas, como muitos podem enxergar, Mourinho não mantém uma temporada de sucesso há tempos e, certamente, significaria um retrocesso para a Inter de Milão.
As decisões no futebol são muito importantes, e as consequências são de acordo com essas escolhas. No caso dos Nerazzurri, mesmo com a possibilidade de tudo ainda ir por água abaixo mais cedo ou mais tarde, as decisões seguiram uma lógica certa e demonstram força e competência na gestão futebolística.
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