É complicado perder um jogador importante para o seu time, mas mantê-lo contra sua vontade pode ser algo ainda pior em algumas situações.
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Reprodução/Getty Images |
Apesar de que o futebol seja um universo extremamente complexo, a principal fatia é daqueles que estão ativamente realizando o esporte. Ou seja, tanto os jogadores quanto os treinadores são as principais figuras dos clubes. Quando você é uma estrela, em ascensão ou já consolidada, os seus holofotes são ainda maiores. Mas, apesar de ser a grande cara do time, o atleta pode buscar novos ares e querer conquistar o seu espaço em outro lugar. Em muitos casos, ele deseja alçar um voo maior na carreira ou até mesmo realizar o sonho de jogar, mesmo sem o protagonismo, num destino diferente.
Recentemente, aconteceu um desses casos. Harry Kane, criado e consolidado pelo Tottenham, deixou muito claro o seu interesse em sair do clube. Pois, o Manchester City, de Pep Guardiola, colocou uma proposta de 125 milhões de libras para o inglês, a qual foi rejeitada pela diretoria dos Spurs. No entanto, não é de dinheiro que a saída de Kane estava motivada, mas, sim, por desempenho e sonho de alçar voos maiores.
Surpreendentemente, um jogador que é tão talentoso e, sem dúvidas, um dos melhores centroavantes do mundo ainda não ganhou nenhum título na carreira. Ou seja, apesar da Seleção Inglesa e dos quatro times que ele jogou emprestado, podemos culpar o time que ele joga atualmente por esse feito. Então, quando um time tão vitorioso quanto o City surge com uma proposta, sua escolha foi aceita-la. Por outro lado, Daniel Levy, dono do Tottenham, foi quem negou sua saída.
E essa escolha parece simples: "por que eu vou abrir mão do meu melhor jogador e perder a temporada?". Porém, ela é mais complexa do que parece, pois existem muitas consequências que podem surgir. Primeiramente, de maneira interna, tem o desgaste entre clube e jogador, porque Kane quis sair, mas não conseguiu; no externo, a relação mais difícil com a torcida, que, claramente, não gostou do ídolo deles ter pedido pra sair - mesmo que a relação esteja tranquila hoje em dia.
Segundamente, mas tão importante quanto o primeiro, é a motivação e o rendimento do atleta. Apesar do profissionalismo de Kane, seu início de temporada se mostra bastante esquisito. Em 14 jogos, foram sete gols e uma assistência. Em contrapartida, a maioria desses tentos aconteceram contra adversários bem inferiores: Paços de Ferreira e NS Mura, totalizando cinco gols. Na Premier League, um gol e uma assistência contra o Newcastle.
Certamente, como muitos sabiam, a temporada 2021/22 do Tottenham não seria fácil. Não apenas pelos problemas em manter Harry Kane, como também pela chegada de Nuno Espirito Santo e a chegada de algumas novas peças. Mesmo assim, com mais de dois meses de temporada acontecendo, o atacante, que foi um dos candidatos a vencer o prêmio de melhor jogador do último campeonato, não conseguiu emplacar uma sequência digna.
Portanto, a permanência do inglês no time pode ser uma justificativa para isso. Além disso, todos os rumores que cercam Kane e o Tottenham pode atrapalhar quem não está envolvido com essa história, ou seja, o restante do elenco. No entanto, esse é um dos preços que se paga ao querer manter o seu melhor jogador contra sua vontade. Por incrível que pareça, essa é uma discussão comum no âmbito esportivo, até mesmo em outros esportes, como o basquete e o futebol americano.
No futebol europeu, podemos relembrar o caso de Philippe Coutinho no Liverpool. Em 2017, durante a janela de transferências de verão, o interesse de Coutinho em deixar os Reds pelo Barça era nítido. Afinal, a equipe catalã buscava um "novo Neymar" e almejava títulos importantes, enquanto o time inglês voltava aos poucos a viver uma boa fase novamente. Mesmo assim, o Liverpool manteve o jogador no elenco, e apesar de ele ter jogado bem, dava para perceber um clima diferente e a mudança de ares.
Por sorte, o Liverpool tinha encontrado em Salah, que chegou na janela de verão, uma nova referência, além de Mané estar pedindo passagem no titular. Portanto, Coutinho foi vendido no inverno, em 2018, depois de muita insistência do brasileiro e do Barcelona nessa transferência. Além disso, vale ressaltar a quase saída de Messi em 2020, quando o atleta não acreditava mais no projeto esportivo do clube. Ele permaneceu, contra sua vontade, até o fim da temporada e só saiu por conta dos problemas financeiros da equipe catalã.
Ou seja, tanto Liverpool quanto Barcelona, tiveram decisões importantes a fazer. Mesmo que a permanência desse jogador possa significar maiores chances de disputar títulos, em contrapartida, pode instaurar um clima perigoso, desequilibrar a relação entre diretoria e elenco e esquentar os problemas já existentes. Mesmo assim, existe a opção de manter o seu melhor jogador e tentar proporcionar o melhor espaço possível para ele ganhar títulos ou evoluir na carreira.
No caso de Harry Kane, ainda é cedo para pensarmos o que acontecerá com o Tottenham. Mas, a decisão que Daniel Levy tomou precisa valer a pena: o Tottenham deve construir o melhor cenário para o seu principal jogador. Caso contrário, ele vai pedir para sair mais uma vez ou até mesmo cairá bruscamente de nível, o que seria terrível para o jogador e para a entidade.
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