O tudo ou nada do Los Angeles Rams deu em tudo

A franquia californiana da NFL entrou de cabeça na temporada 2021, rumo ao Super Bowl LVI, onde, finalmente, conseguiu o resultado que construiu nesses últimos anos.

Aaron Donald comemora o título do Super Bowl
Divulgação/Twitter/RamsNFL

Mais uma temporada da NFL concluída e mais um campeão coroado no início de fevereiro. Desta vez, foi a vez do fortíssimo Los Angeles Rams alcançar seu segundo título da história. Após vencer o Cincinatti Bengals, de virada, por 23 x 20, essa equipe coroou uma fase especial da franquia. Mas, a jornada até o So-Fi Stadium foi extremamente complicada, com jogos emocionantes, surpresas incríveis e jogos de tirar o fôlego, incluindo o próprio Super Bowl LVI.

Mesmo se posicionando atrás de outras grandes equipes na NFL, como Green Bay Packers, Tampa Bay Buccaneers, Kansas City Chiefs e Buffalo Bills, não é nenhuma surpresa o time californiano sair com o campeonato. Certamente, se os Bengals levassem, seria um caso extremamente raro de zebra na liga. Mas os Rams são uma equipe que, nas últimas temporadas, se ajustou por completo, criou um potencial incrível e sem dúvidas era uma das forças da liga. Sabendo disso, eles foram com tudo em 2021, trazendo peças, para justamente ganhar o título neste período incrível da história.

A transformação da parte técnica

Primeiramente, antes de falar das poderosas partes defensivas e ofensivas, a mudança e a consolidação dessa franquia começou na sideline. Pois, uma das poucas certezas nessa liga é a noção de que Sean McVay, head coach dos Rams, é um dos melhores de toda a NFL. Isso é um fato. Tornou-se algo tão sólida pelo o que ele fez na franquia, a partir de 2017, ano em que assumiu o comando.

Anteriormente, ainda na época de St. Louis Rams, o treinador era Jeff Fisher, que começou sua jornada em 2012. Curiosamente, as quatro temporadas completas do ex-treinador no clube acabaram com campanhas negativas: 7-8-1, 7-9, 6-10 e 7-9. Além disso, ele permaneceu até 2016, agora como Los Angeles Rams, e fez um singelo 4-9 e foi demitido antes do 14ª jogo da temporada.

No ano seguinte, foi a vez do coordenador ofensivo do Washington, Sean McVay, assumir o comando dos Rams, com a premissa de desenvolver a escolha número 1 do Draft passado, Jared Goff, e tirar o melhor de alguns talentos do elenco, incluindo Aaron Donald. Dito e feito. Logo na primeira campanha, alcançou números muito melhores: 11-5. Na seguinte, teve a ida ao Super Bowl depois de uma temporada regular de 13-3.

Um dos principais feitos de McVay foi ter conseguido colocar o ataque para jogar. Como todo bom membro do estilo West Coast Offence, conhecido pelos passes curtos, jardas pós-recepção e movimentações pré-snap, ele colocou esse estilo para funcionar muito bem. Apesar do talento de Jared Goff sempre ser questionado, nos primeiros anos, o jovem conseguiu ser um mecanismo bom do ataque, sendo até selecionado para o Pro Bowl e colocando a equipe entre os melhores ataque da liga.

No entanto, apesar de Sean McVay ser a principal peça nessa mudança gigante nos Rams, não podemos deixar de lado toda a comissão técnica, que, apesar de não ter o reconhecimento imediato, é notada por outros. De 2017 a 2021, foram exatas sete pessoas que saíram da franquia para assumir uma posição maior em outra equipe. Os mais notáveis são Matt LaFleur, head coach dos Packers, Zac Taylor, head coach dos Bengals, e, mais recentemente, Kevin O'Connell, que irá assumir os Vikings.

Contudo, o que é mais surpreendente de tudo isso é a capacidade do Los Angeles Rams em manter o alto nível. Desde a chegada de McVay e mesmo com a saída de tantos membros da comissão técnica, a equipe nunca teve uma campanha negativa, com apenas a temporada de 2019 ficando de fora dos playoffs. Ou seja, é nítido como a força dessa franquia está na comissão técnica, na filosofia implementada e no trabalho fluido de anos.

A excelência defensiva

Com certeza, a chegada de novos membros na comissão técnica foi fundamental para o ataque sair da mesmice das últimas temporadas. No entanto, por mais que os números ofensivos fossem bons, nada supera a defesa dos Rams. Certamente, quando pensamos em grandes defesas da liga, a de Los Angeles (dica: não é a do Chargers) sempre aparece no topo das listas de qualquer um. Isso também entra na conta de McVay e companhia, mas, nesse caso, ele apenas liberou todo talento de seus talentos.

Vale ressaltar que a construção da defesa começou no Draft, com escolhas certeiras, chegando até a Free Agency, que ganhou força no time recentemente. Mas, desde o começo, a figura de Aaron Donald sempre ganhou muito destaque, afinal ele possivelmente é um dos melhores jogadores da história da liga, ainda mais jogando numa posição quase esquecível pelo grande público, de defensive tackle. Além dele, Jalen Ramsey chegou em 2019, vindo do Jacksonville Jaguars, para melhorar a secundária do time e dividir a importância com Donald.

Além disso, como foi dito anteriormente, muitas peças na comissão técnica foram trocadas e mesmo assim o time continuava a apresentar bons números. Apesar do ano de 2019 ter sido terrível, em 2020 a defesa californiana foi disparada a melhor da NFL, liderando vários aspectos, incluindo menos pontos recebidos, menos jardas cedidas por passe, menos touchdowns aéreos e diversas posições altas em outros quesitos.

Nessa capacidade incrível da defesa gerou três títulos de Jogador Defensivo do Ano para Aaron Donald, fora as múltiplas seleções para o Pro Bowl, tanto dele quanto de Jalen Ramsey. No entanto, apesar dessas estrelas chamarem muita atenção, elas abrem espaço para outros jogadores brilharem, como aconteceu neste ano, com Leonard Floyd e o recém chegado Von Miller.

Reprodução/Site oficial Los Angeles Rams

O tudo ou nada de 2021

Todas essas qualidades citadas acima foi algo perceptível para todos os fãs da NFL: o Los Angeles Rams era uma verdadeira realidade, batendo na trave em 2018. Portanto, o general manager Les Snead parou de ir evoluindo aos poucos e decidiu dar um All-In em 2021. Com medo de suas estrelas estarem perdendo o auge, o executivo abriu mão das primeiras rodadas de 2022 e 2023, além de uma terceira rodada de 2021, pela troca entre Jared Goff e Matthew Stafford, dos Lions.

Por mais que Goff tenha tido duas primeiras temporadas em um nível acima do regular, as defesas começaram a ficar mais espertas nas várias tentativas de Sean McVay em esconder os pontos fracos do quarterback. Depois de 2020, era nítido que o atleta não conseguia ser um desequilíbrio positivo. A chegada de Matthew Stafford, um QB de qualidade clara e reconhecível, cumpriu sua parte e criou uma ótima sintonia com Cooper Kupp, Jogador Ofensivo do Ano e MVP do Super Bowl.

Além disso, a chegada de Odell Beckham Jr. foi essencial para o ataque fluir ainda mais, principalmente na pós-temporada. Para isso, não custou nenhuma escolha de Draft, pois OBJ era free agent, mas tiverem que desembolsar 4,25 milhões de dólares, numa equipe com muitos salários altos e no meio da temporada regular.

Na defesa, o pass rush ficou ainda mais letal com a chegada do MVP do Super Bowl 50, Von Miller. Após sair do Denver Broncos, ele chegou em Los Angeles para explorar os espaços que sempre são deixados na linha ofensiva adversária, graças à presença de Aaron Donald ser tão impactante. Essa troca gerou escolha de segunda e terceira rodada para os Broncos. Para os Rams, foi mais um elemento importante rumo ao título que seria conquistado futuramente.

O Super Bowl premiou toda a revolução da franquia

Por fim, é necessário destacar a transformação visual, de marketing e de imagem do Los Angeles Rams. Em 2015, eles ainda estavam em St. Louis, uma cidade que tinha um público fiel, mas com pouca perspectiva de crescimento não só pelo mercado inferior, mas também pela força do beisebol na cidade. Com isso, a vinda para Los Angeles, que na época não tinha nenhuma franquia - os Chargers e Rams foram para a grande metrópole da California juntos, em 2016 -, significou uma ampliação necessária.

O clube ganhou os olhos das celebridades, que podem até amar e torcer para outras franquias, mas desejam ver o time de suas cidades serem vencedores também. Decerto, isso abriu as portas para uma nova ideia de gerenciamento e de identidade, para que a franquia faça jus à cidade campeã e conquiste seus moradores.

No entanto, é bom relembrar: o que revolucionou o Los Angeles Rams foi a mudança de comissão técnica, a sequência de trabalho e a manutenção e chegada de estrelas impactantes. Esses são os principais pontos. Mas também toda essa transformação visual, de uniformes e logos, criaram uma nova aura e uma importância diferente. Trata-se de algo bastante pouco perceptível, mas que faz diferença, principalmente na cobiça por título.


So-Fi Stadium
Reprodução/The Playoffs

O novo estádio, localizado nas proximidades de Los Angeles, em Inglewood, trouxe algo novo também. Sempre é muito bom ver transmissões em estádios novos e extremamente exuberantes, mas ele ajudou a coroar essa nova fase, essa imersão com a modernidade e com o alto nível. Foi o lembrete exato de que eles precisavam ir com tudo e ganhar, mais do que nunca, pelo menos um Super Bowl, para marcar seus nomes na história.

Com certeza, o nome de cada membro será eternizado, porque o título enfim veio, e ainda dentro do So-Fi Stadium, em casa. Mas, mais do que o título, foi a coroação de um grande trabalho, de uma filosofia saudável e muita qualidade em todos os setores da franquia, dentro e fora. Agora, o Los Angeles Rams está definitivamente honrado em usar o nome da cidade que cria tantos campeões. A transição terminou, e está começando, quem sabe, um novo legado.

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