Relembrando o jogo histórico: São Paulo x Palmeiras de 2006

Há 15 anos, Rogério Ceni decidiu a partida que levaria o São Paulo para as quartas de final da Libertadores de 2006.

    

São Paulo elimina Palmeiras da Libertadores
Foto: Reprodução/Gazeta Esportiva

Sem dúvidas, o clássico entre São Paulo e Palmeiras é um dos mais populares do Brasil. Não apenas porque é o embate entre a terceira e a quarta maior torcida do país, como também possui grandes jogos por trás da rivalidade. Mas, como se o próprio Choque-Rei não se bastasse por si só, o ano de 2021 presenteou os amantes do esporte com dois jogos de mata-mata de Libertadores entre eles. Ou seja, é a chance de ver mais um capítulo sendo colocado no livro de histórias deles.

Apesar do Palmeiras possuir uma rivalidade maior com o Corinthians e uma grande história com o Santos, o Choque-Rei vem ganhando mais força recentemente. Desde as discussões entre os presidentes envolvendo a transação de Alan Kardec em 2014, os anos sem vencer um na casa do outro e até mesmo a final do Paulistão desse ano. Depois do São Paulo viver a época de ouro nos anos 2000 e o Palestra dar a volta por cima dos rebaixamentos e conquistar diversos títulos, ambos estão em pé de igualdade.

Com isso, vale a pena ressaltar um dos grandes episódios desse clássico, que pode não ter grandes encontros num passado distante, mas possui uma rica história recente. Em uma dessas grandes memórias do Choque-Rei, está o duelo entre eles na Libertadores de 2006, válido pelas oitavas de final. Mais especificamente o segundo jogo, o qual seria especial para o futuro dos clubes e do clássico como um todo.

O contexto de São Paulo e Palmeiras na época

São Paulo

Primeiramente, o São Paulo era o atual campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes. Portanto, ao iniciar a temporada de 2006, o clube tinha muita tranquilidade. Por outro lado, começava a jornada do técnico Muricy Ramalho, com a missão de manter o elenco focado nos títulos e não achar que poderia ganhar tudo facilmente. Apesar de grandes jogadores, como Rogério Ceni, Aloísio, Mineiro, Josué e Júnior, no elenco, a meta era não relaxar.

Assim, mesmo com um começo de Paulistão com duas derrotas, a equipe foi se acertando com o passar do tempo. Depois de 19 rodadas, ficou com o vice-campeonato, pois naquela época o torneio estadual era por pontos corridos. Enquanto isso, na Libertadores, as duas derrotas para o Chivas Guadalajara assustaram, mas não deixou que a equipe perdesse a vaga para o mata-mata. Em suma, o São Paulo era uma equipe forte que estava começando a deslanchar. Mas antes, tinha que derrotar o Palmeiras.

Antes do jogo da volta, obviamente, aconteceu o jogo de ida, o qual as equipes empataram por 1 a 1, deixando a decisão para o Morumbi. Nos últimos dois jogos do Brasileirão, o Tricolor perdera do Fortaleza, no Castelão, e ganhara por 4 a 0 do Santa Cruz, em casa, antes de enfrentar o Palmeiras no dia 3 de maio de 2006.

Palmeiras

Diferentemente de seu adversário, o Verdão estava em reabilitação naquela temporada. Pois, em 2003, disputou a Série B do Campeonato Brasileiro, retornando à elite no ano seguinte. Posteriormente, no nacional de 2005, terminou na 4ª colocação e garantiu seu retorno ao torneio continental. Contudo, o Palmeiras vivia uma instabilidade no cargo de técnico. Apenas em 2005, foram quatro treinadores diferentes, sem contar o interino.

Logo depois, ainda em 2005, o Palmeiras encontrou o técnico que comandaria o time por mais de 100 jogos: Emerson Leão. Porém, ao tomar uma goleada para o Figueirense de 6 a 1, perto de enfrentar o São Paulo pela Libertadores, ele foi demitido no meio da temporada. Ou seja, a equipe Alviverde chegava para o duelo contra o atual campeão da competição sem treinador ou bons resultados.

No balanço geral da temporada 2006, teve um bom início. Depois, manteve uma inconsistência, com alguns bons resultados e outros ruins. Além disso, classificou-se com dificuldades em seu grupo na Libertadores. Apesar de tudo estar contra o Palmeiras, era um elenco bem misturado, juntando a juventude de jogadores como Valdivia, Wendel e Ilsinho, com a experiência de craques como Marcos, Edmundo, Gamarra e Paulo Baier.

Os 90 minutos

1º Tempo

Logo no início, foi possível notar uma superioridade da equipe são-paulina no jogo. Com muitas movimentações no ataque, a principal jogada era pelo lado direito, onde tinha as infiltrações de Souza, Leandro e Mineiro. Ao contrário, o Palmeiras tinha dificuldades de sair trocando passes e encontrar companheiros livres. Não à toa, a principal estratégia eram os lançamentos de longa distância, buscando as referências ofensivas de Edmundo e Washington.

Apesar de manter o controle da partida, o São Paulo não ficava muito com a bola. Sua principal estratégia era atacar o portador da bola, geralmente na região central do campo, e contra-atacar com velocidade. À exemplo, aos 13 minutos, após roubar a posse, Souza foi acionado pelo lado direito e cruzou para Aloísio cabecear. Sérgio, o goleiro titular do Palmeiras, tentou fazer uma defesa à queima-roupa, mas a bola acabou indo em direção ao gol.

Depois de abrir o marcador, o Tricolor Paulista manteve o ritmo. Com isso, era possível notar que os atacantes mais à frente, Leandro e Aloísio, abriam espaços para infiltrações de jogadores velozes, como Mineiro e Júnior. Ainda por cima, Souza, pelo lado direito, e Danilo, pelo lado esquerdo, ajudavam a compor um quarteto ofensivo ao lado dos atacantes. No geral, o São Paulo comandava as ações da partida, de maneira rápida e bastante objetiva.

Por outro lado, o Palmeiras tinha claras dificuldades de propor o jogo. Pois, a equipe adversária dava liberdade para o visitante trocar passes entre os zagueiros, mas pouco disso era efetivo. Mesmo assim, o Alviverde conseguiu equilibrar um pouco mais o duelo perto do fim e chegou mais próximo do gol de Rogério Ceni, quando os lançamentos longos começaram a funcionar mais. Porém, no quesito levar perigo, a vantagem era são-paulina, mesmo com menos posse no final da primeira etapa. 

2º Tempo

No início do segundo tempo, o São Paulo voltou a dominar a partida. Logo de cara, manteve a posse por vários minutos seguidos no campo ofensivo do Palmeiras. Mas, imediatamente, essa etapa apenas confirmou algo que a primeira já havia mostrado: um jogo clássico de Libertadores. Não por se tratar de um Choque-Rei, mas por conta de ser um jogo do torneio continental. Portanto, o duelo estava repleto de faltas, amarelos, bola fora de jogo e, também, impedimentos.

Apesar das várias interrupções e uma arbitragem extremamente questionável de Wilson Souza, o São Paulo controlava o jogo num ritmo menos intenso. Todavia, quem conseguiu buscar o gol foi o Palmeiras. Edmundo cavou uma falta pelo lado direito do campo, e Corrêa cruzou certeiro na cabeça de Washington. Sem chances para Rogério. Assim, o Verdão empatou a partida aos 13 minutos.

Logo depois do empate no placar, a partida voltou a um ritmo frenético. Os mandantes, que gostavam bastante de usar a velocidade de seus jogadores, acelerou o jogo ao ser mais ofensivo. Contudo, deixava mais espaços lá atrás, os quais o Palmeiras também aproveitava. Portanto, ganhou-se uma atmosfera bastante intensa no Morumbi, impulsionado também pela torcida são-paulina presente.

No entanto, pode-se dizer com facilidade que o arbitro tentava estragar a partida. Além de diversos erros durante todo os 90 minutos, havia muitas intervenções desnecessárias. Porém, na expulsão de Leandro, que deu um carrinho por trás em Edmundo para evitar que o camisa 7 ficasse cara a cara com o goleiro, ele agiu corretamente. Obviamente, com um jogador a mais para o Palestra, o contexto mudou.

Portanto, na metade final da etapa, o Palmeiras era mais dominante na partida. Enquanto isso, o Tricolor se retraia e buscava contra-ataques rápidos. Contudo, mesmo com um jogador a mais, o visitante não conseguia evoluir no campo com facilidade e sempre recorria a um chutão. Com isso, não demorou muito para a estratégia são-paulina ganhar forma. Após roubada de bola, Júnior - possivelmente, o nome da partida - se livrou da primeira falta, mas não da segunda, que aconteceu dentro da área. Pênalti para o São Paulo.

Anteriormente, fora mencionado as intervenções desnecessárias do arbitro. No pênalti, mais uma aconteceu. Rogério Ceni acertou a cobrança, mas Wilson Souza pediu para repetir, pois Lugano invadira, por pouco, a meia-lua. Porém, o atraso só serviu para Ceni acertar uma bela cobrança no ângulo e dar a vantagem no placar. Por consequência, o gol do goleiro artilheiro fez com que ele ultrapassasse Chilavert em números totais na carreira.

Após a cobrança, os jogadores do Palmeiras ficaram muito irritados. Faltavam quatro minutos mais os acréscimos e a equipe precisava de apenas um gol para se classificar. Entretanto, a falta de criatividade de todo o jogo se manteve nesse final, impossibilitando qualquer grande chance. Ainda por cima, o Alviverde arrumou uma confusão, a qual Paulo Baier acabou expulso após, de certa forma, ter agredido Ceni e Fabão. Depois de muito tempo parado, o jogo reiniciou, mas o juiz logo terminou. Os palmeirenses perderam a cabeça mais uma vez, e Thiago Gomes e Marcinho Guerreiro foram expulsos.

Gol decisivo contra o Palmeiras foi 63º do goleiro brasileiro
Foto: Reprodução/Rubens Chiri/sãopaulofc.net

As consequências do jogo e o futuro das equipes

São Paulo

Após derrotar o rival, o Tricolor Paulista seguiu firme na competição. Nas quartas, passou do Estudiantes nos pênaltis. Em seguida, deu o troco no Chivas com duas vitórias, garantindo vaga na final. Porém, foi derrotado pelo Internacional, de Fernandão e companhia. Ainda naquele ano, sofreu com a derrota na Recopa Sul-Americana para o Boca Juniors. No entanto, o melhor estava por vir só no final do ano.

Definitivamente, o sucesso do São Paulo não só em 2006, mas também nos anos seguintes foi no Brasileirão. Depois de tropeçar alguns jogos após perder a Libertadores e a Recopa, a equipe ficou mais de dois meses sem perder. Ao todo, foram oito vitórias, cinco empates e o quarto título brasileiro de sua história. Nas duas edições seguintes, o Tricolor venceria ambas, consagrando-se o primeiro hexa campeão brasileiro oficial da época.

Palmeiras

Em contrapartida, a caminhada do Palmeiras não seria assim tão fácil. Pois, aquela inconstância nos resultados aumentou. Após a eliminação, ficou quatro jogos sem vencer, mas, logo depois, venceu outros quatro jogos. E, assim, essa alternância de momentos seguiu todo o restante de temporada. Ao final da temporada, o Alviverde acabou na 14ª colocação na tabela, portanto, sem Libertadores no ano que vem.

Nas futuras temporadas, o Palmeiras manteve essa inconstância, sempre alternando com bons e maus momentos durante a temporada. Contudo, em 2008, conseguiria ser campeão paulista após ter eliminado o São Paulo nas semifinais, após grande atuação de Valdivia. Assim, continuou inconstante, até chegar no ápice dos extremos em 2012, ganhando uma Copa do Brasil e caindo para a 2ª divisão numa mesma temporada.

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