Ambos os times elevaram o patamar do futebol brasileiros nos últimos anos e, nesta final de Libertadores, consolidam uma rivalidade de gigantes.
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Foto: Reprodução/Torcedores.com |
Neste sábado (27), a final da Libertadores vai parar o Brasil mais uma vez, pois contará com o duelo entre Palmeiras x Flamengo. No entanto, a final da competição mais importante da América do Sul parece apenas mais um acessório para o confronto entre duas das principais torcidas do país. A rivalidade entre alviverdes e rubro-negros cresce a cada ano, não só por conta da força de cada um dos elencos, mas também por disputas para ver quem tem o melhor trabalho administrativo, a torcida mais apaixonada e a maior quantidade de títulos recentes.
No quesito títulos, pelo menos, o Palmeiras está um pouco à frente do seu adversário. Pois, a fase vencedora da equipe paulista começou primeiro, lá em 2015, com a campanha que desencadeou no 3º título da Copa do Brasil do clube, e perdura até hoje. Contudo, quando o Flamengo conseguiu alcançar o seu ápice, foi algo quase imparável. Os comandados de Jorge Jesus simplesmente formaram um dos melhores coletivos do Brasil, digno de ser, no mínimo, colocados entre os melhores times dos últimos anos. E, claro, ganhou Libertadores e Brasileirão no mesmo ano - e um bicampeonato nacional, mas com Rogério Ceni no comando.
Ou seja, através de conquistas, principalmente, o duelo entre Palmeiras e Flamengo ganhava proporções muito maiores. Cada jogo, cada confronto era imperdível, porque todos sabiam que se tratava de uma rivalidade em pura ascensão, quase chegando no seu ápice. Bom, se as pessoas queriam ver até onde essa disputa iria, a final da Libertadores da América é um ótimo destino, para consolidar de vez a força desse clássico moderno.
Corinthians, Vasco, São Paulo, Fluminense, Santos, Botafogo: esses são os principais adversários do Mengão e do Verdão. Porém, um clássico pode crescer de várias formas, não apenas pelo contexto histórico dos clubes de mesma cidade. Nos últimos anos, a única coisa que mais distancia Palmeiras e Flamengo é justamente a região, pois, de resto, os clubes parecem equilibrados e constantemente brigam para ver qual o melhor.
A qualidade de gestões
No Brasil, questões administrativas sempre foram uma questão complicada de gerir. Na história recente, diversos clubes precisaram de desfazer de jogadores, cortar folha salarial ou, como o Cruzeiro, sofrer as consequências de investimentos ruins. Não é o forte dos clubes brasileiros equilibrarem suas folhas salariais, aplicar o dinheiro ganho da melhor forma e colher os frutos no futuro. Mas, se existem exemplos a serem seguidos, Palmeiras e Flamengo são eles.
Começando pela história de recuperação do Palmeiras, é necessário ressaltar a manutenção do clube na 1ª divisão, em 2014. Pois, o ano de 2015 foi ótimo para a equipe alviverde: acertou um acordo com a Crefisa, o Allianz Parque dando muitos frutos, investimentos de Paulo Nobre e, claro, o título da Copa do Brasil. Com o passar dos anos, apenas os investimentos do ex-presidente acabaram, porque o Allianz Parque se consolidou na cultura do paulistano e a Crefisa, só aumentou o patrocínio. Além disso, mais recentemente, o clube deixou de gastar o dinheiro com muitas contratações, contratou Abel Ferreira, passou a acreditar mais na base e na compra de atletas de baixo custo. Os lucros ajudaram a crescer a estrutura, que é sempre mencionada como alto padrão.
Já o Flamengo teve um processo mais longo para poder sair do buraco que se encontrava. A principal referência nesse cenário foi o ex-presidente Eduardo Bandeira de Melo, que trouxa a perspectiva e a importância de equilibrar as contas. No entanto, é difícil encontrar um equilíbrio entre acertar as contas e tornar o seu time competitivo. O time rubro-negro, portanto, não contava com grandes jogadores ou um trabalho sólido até 2018. O ano de 2019 veio para modificar a vida do torcedor flamenguista, seja com contratações de peso quanto a chegada de Jorge Jesus, que transformou alguns jogadores e elevou o patamar do Mengo através de grandes partidas e títulos. O clube usou os lucros para equiparar dívidas, contratar jogadores importantes, fortalecer categorias de base e estruturas do clube.
Em suma, quando pensamos nas excelências dessas duas gestões, rapidamente conectamos aos seus sucessos. Afinal, uma boa administração fortalece o futebol dentro de campo, sendo uma equipe pequena ou não. Contudo, Palmeiras e Flamengo buscaram soluções diferentes para os seus problemas. A equipe alviverde encontrou uma combinação de patrocínio, estádio e cotas de televisão para crescer cada vez mais. Por outro lado, o rubro-negro ganhou muito através dos contratos com TV Globo nos últimos anos, mas também com vendas de jogadores e apelo popular que o clube possui. Até nisso, os torcedores discutem para ver qual o melhor.
Buscando um rival à sua altura
Esse é um ponto mais delicado, mas não pode deixar passar em branco. Com exceção de Palmeiras e Flamengo, os demais times dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro não passam por bons momentos há um tempo. Apesar do Corinthians ter ganhado o Brasileirão 2017, não conseguiu manter continuidade. Além disso, mesmo com uma melhora considerável, o Tricolor Paulista não consegue ser uma equipe regular e ainda não bate de frente por uma temporada inteira. E os clubes do Rio de Janeiro dispensam comentários: dois na Série B e um Fluminense que, apesar da melhora, não é capaz de propor muitos desafios.
O principal ponto é que a rivalidade que Flamengo e Palmeiras travam atualmente não precisam ser comparadas às históricas de cada um. Jamais um confronto entre eles irá superar o Derby Paulista ou um FlaFlu, mas a situação que os clubes vivem os colocam nesse ponto de fomentar uma rivalidade muito grande entre eles. Isso é uma das consequências que o dinheiro traz: você acaba criando uma rivalidade muito maior com os seus semelhantes.
À exemplo, o Atlético Mineiro, que entrou no grupo seleto de Palmeiras e Flamengo neste ano, demonstrou que partidas entre times semelhantes são grandiosas também, independentemente da história entre eles. Um exemplo internacional é a rivalidade entre Liverpool e Everton, dois times da cidade de Liverpool que possuem uma história extensa, mas que caiu consideravelmente pela distância criada entre os dois, financeiramente e esportivamente. Pelo Porco e o Mengo serem equipes do mesmo patamar, e ainda por vários anos seguidos, é natural que a rivalidade se transformasse completamente.
A final da Libertadores torna-se histórica
Por fim, essa é a final que não só coroará o campeão da América em 2021, como também a rivalidade que foi construída nesses últimos anos. Trata-se da coroação de dois grandes trabalhos que sobram no futebol brasileiro e servem de exemplo para muitos outros surgirem. Definitivamente, é o ápice de todos os duelos dos últimos anos. Ainda neste ano, tivemos um grande duelo pela Supercopa do Brasil, em um jogo de quatro gols e decisão de pênaltis.
Apesar do Palmeiras não conseguir uma vitória sobre o rival desde 2017, uma final é uma final. O Flamengo tem um leve favoritismo para o confronto, pois vem de melhores atuações e conta com um elenco mais recheado que o do adversário. No entanto, o imprevisível mora nos planejamentos de cada técnico: como as equipes irão se comportar? Quais serão as estratégias de Renato Portaluppi e de Abel Ferreira para o jogo? E os melhores duelos individuais da partida?
As equipes são rivais, na verdade, mais do que isso: são opostas. Enquanto o Flamengo de Jorge Jesus ficou conhecido pela intensidade dentro de campo, pressão no portador da bola e jogo mais ofensivo, algo que passou de Domènec até o time de Renato, Abel coloca sua equipe mais defensiva, explorando jogadas de velocidade e de bola parada. Ou seja, são estilos diferentes, que não possuem certo e errado, mas que, definitivamente, criam uma disputa muito interessante de acompanhar e ver quem ganha.
Em suma, a final é a junção do que a de melhor no futebol brasileiro. Se algum europeu se interessar em acompanhar nosso futebol, a porta de entrada é essa final, que, possivelmente, não será um primor técnico, mas reúne os melhores times, as melhores gestões e os melhores jogadores do país. Além disso, é a chance de um dos dois salvarem a temporada com um título de extrema importância e se reunir a Grêmio, Santos e São Paulo no número de Libertadores. E, claro, a chance de zoar (muito) o torcedor rival, porque, afinal, trata-se de uma final envolvendo a rivalidade mais importante da atualidade.
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